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D. Duarte atribui crise à "irresponsabilidade" e "desonestidade" dos políticos

17 out, 2013

Duque de Bragança defende a necessidade de o Estado dar o exemplo de poupança e de encorajamento da iniciativa privada. "Acho que se tivesse tido alguma influência como rei ou político nos anos anteriores, a minha voz teria sido mais ouvida quando, durante anos, fui alertando contra as despesas não reprodutivas que os governos portugueses foram fazendo". 

A crise portuguesa tem como causas a "ignorância, a irresponsabilidade e a desonestidade" de alguns políticos, afirmou Duarte Pio, esta quinta-feira em Macau. O duque de Bragança defendeu ainda a necessidade de a população gastar menos.

"Eu acho que a crise portuguesa tem duas causas: a ignorância e a irresponsabilidade, para não dizer também uma certa dose de desonestidade, da parte de alguns políticos que se foram habituando a ter lucros que não deviam ter", afirmou D. Duarte em declarações aos jornalistas, à margem da Feira Internacional de Macau, que visitou a convite da Associação de Jovens Empresários Portugal-China.

Ao constatar que "qualquer dona de casa sabe que não é sustentável gastar mais do que o que se ganha", o duque de Bragança previa que "mais cedo ou mais tarde" o despesismo do Governo "tinha que se pagar" e lamentou que tenha sido "preciso o Governo anterior estar numa situação praticamente de falência para chamar a 'troika'".

"Acho que se tivesse tido alguma influência como rei ou político nos anos anteriores, a minha voz teria sido mais ouvida, quando durante tantos anos fui alertando contra as despesas não reprodutivas que os governos portugueses foram fazendo", apontou, referindo, por exemplo, "as auto-estradas, a Expo, o Centro Cultural de Belém".

D. Duarte lembrou ainda "a fraude do BPN", defendendo que os seus responsáveis "deviam estar na prisão" e lamentou que o "Governo Sócrates tenha salvado da falência um banco que devia ter ido à falência e que é um dos maiores buracos financeiros que há em Portugal".

"Isto não é admissível que o contribuinte tenha de pagar as aventuras e a desonestidade de algumas pessoas", sublinhou.

Quanto ao Orçamento do Estado para 2014, apresentado esta semana, Duarte Pio considera que é "o possível, ninguém gosta dele, mas quando não há dinheiro tem de se fazer aquilo que se pode: ou se cortam as despesas do Estado ou se aumentam as receitas".

"Aumentar as receitas só com os impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes na função pública, que representa "80% das despesas do Orçamento do Estado".

Para o duque de Bragança, "ou se diminui o número de funcionários - e aí há o problema do desemprego e dos subsídios de desemprego - ou se diminuem, de algum modo, os custos do funcionalismo público, não há muita alternativa. Aliás, não há mesmo alternativa nenhuma, porque o resto das despesas que o Estado tem de cortar são 20% do Orçamento".

A situação que o país enfrenta é atribuída ainda pelo duque de Bragança ao sistema republicano, apontando que "os presidentes da República, por mais sérios e dedicados que sejam, têm estado sempre comprometidos com os partidos, sendo, por isso, muito difícil intervir e corrigir os desvios dos próprios partidos".

"Se a República Portuguesa tivesse como chefe de Estado um rei tinha mais independência, mais liberdade para poder, de algum modo, ajudar a controlar os desvios que os governos possam ter, que é o caso da Escandinávia, Reino Unido, Espanha, Austrália e Nova Zelândia", acrescentou.

Duarte Pio defende a necessidade de o "Estado dar o grande exemplo de poupança e de encorajamento da iniciativa privada", que lamenta que seja "ainda muito vítima da burocracia", apesar de se congratular com a criação dos vistos dourados para "facilitar o investimento estrangeiro".

"E, por outro lado, pode-se viver bem com menos, mas é preciso ajudar a população a perceber como é que se pode viver sem sacrifício gastando menos, porque muita gente habituou-se a gastar demais", concluiu.