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Pais indignados. Precisam-se professores de educação especial

24 set, 2013 • Rosário Silva com Fátima Casanova

Em Évora, os pais de crianças com necessidades educativas estão revoltados com a falta de professores do ensino especial. Há mais alunos, menos docentes e nenhuma resposta do Ministério da Educação.

Há escolas a rejeitar alunos com necessidades educativas especiais, porque não têm maneira de os acompanhar. Passa uma semana da abertura do ano lectivo e cerca de 400 alunos especiais continuam em casa.

“Cerca de 400 alunos, ao nível nacional, estão neste momento em casa por falta de colocação atempada de professores do ensino especial ou de outros técnicos que com eles trabalham”, revela à Renascença o sindicalista do Sindicato de Professores da Região Norte Vítor Gomes.

“O panorama no Norte é de cerca de 100 alunos de deficiência mental sem apoio e 80 surdos sem apoio, neste momento todos em casa, a aguardar as colocações tardias que o Ministério fez este ano”, acrescenta.

Exemplos de escolas afectadas pela falta de professores não faltam: no agrupamento das Escolas do Cerco, “há duas unidades fechadas – cerca de 10 alunos que ainda estão em casa – porque não foram colocados professores. No agrupamento de Cinfães, estão quatro alunos à espera de professor para poderem ser intervencionados. No agrupamento Alexandre Herculano, aqui no Porto e uma escola de referência de surdos do concelho, há menos dois técnicos de língua gestual portuguesa, que são os tradutores que ajudam os alunos. E há 80 alunos surdos ao nível de toda a região Norte que estão em casa por falta de financiamento do seu transporte para as escolas de referência”.

O Sul não está isento de dificuldades e, na escola básica Manuel Ferreira Patrício, em Évora, os pais mostram-se indignados.


Momentos de aflição em Évora
Margarida Rosário é mãe de uma menina com necessidades educativas especiais que frequenta a escola básica Manuel Ferreira Patrício. “Esta escola, o ano passado tinha 12 professores do ensino especial, este ano tem sete e recebeu mais casos de crianças com deficiência e com maior grau de dependência", conta.

"A Unidade de Multideficiência tem seis crianças para uma professora, sendo que, quando a minha filha entrou tinha quatro crianças para duas professoras a tempo inteiro. A Unidade de Autismo tem 15 crianças para duas professoras, a de surdos tem em relação ao ano passado, menos um professor, menos dois intérpretes e menos dois formadores de língua gestual”, avança ainda Margarida Rosário.

Isto, num universo de 92 crianças, quase todas a frequentar este estabelecimento de ensino. A directora do agrupamento, em resposta aos sucessivos apelos dos pais, fez deslocar uma professora e duas educadoras da Cooperativa local de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades (CERCI), para assegurar os casos mais graves. Sem outros recursos, mais não se pode fazer.

As respostas tardam em chegar. “Neste momento ninguém sabe de nada, ninguém tem autorização para contratar nem professores nem técnicos. Não há respostas para ninguém”, descreve a mesta mãe.

Margarida Rosário lamenta que a “escola inclusiva” tenha sido uma miragem, uma vez que as crianças “precisam de apoios específicos que não têm. Nós não estamos a pedir favor nenhum, não é? Isto está na lei, o Estado português ratificou o Direito das Pessoas com Deficiência, comprometendo-se a cumprir, mas a verdade é que não percebemos - nem sei se alguém entende - qual é a política do senhor ministro da Educação”, desabafa.