Os bispos reunidos no sínodo estão a tentar traçar um caminho que equilibre a necessidade de compaixão pelos casos difíceis de ruptura familiar ou uniões irregulares, com a doutrina, que é preciso salvaguardar, a respeito da família e do casamento, considera o cardeal arcebispo de Viena, Christoph von Schönborn.
O cardeal austríaco esteve esta quinta-feira na conferência de imprensa do sínodo da família e explicou aos jornalistas que fala destes assuntos com uma experiência acrescida, tendo passado pela "dor" de crescer com pais divorciados, pelo que conhece "a realidade da ruptura".
Em relação à misericórdia, o Cardeal realçou o facto de muitos dos problemas que as famílias enfrentam actualmente serem novos. "Quando eu era novo seria inimaginável que houvesse tantas pessoas a coabitar como há agora", e realçou que o Papa tem insistido na tónica de "acompanhar" as situações mais complexas.
"Ele disse isto muitas vezes para acompanhar e não julgar. Acompanhamento não significa relativismo", esclareceu o cardeal.
Mas por outro lado existe a doutrina católica, que, diz, não pode ser mudada: "Jesus ensinou que a indissolubilidade é uma verdade da criação, não é uma invenção da Igreja".
Alterar Catecismo?O Cardeal Schönborn foi também um dos redactores do actual Catecismo da Igreja Católica. A este propósito, a
Renascença perguntou-lhe se espera que depois deste sínodo seja preciso fazer alterações a este documento. Schönborn recordou que o anterior catecismo, do concílio de Trento, durou mais de 400 anos e que não espera que este tenha a mesma longevidade: "Não vejo necessidade de alterar nada, mas houve desenvolvimentos", afirmou.
Estes desenvolvimentos não devem assustar ninguém, salvaguardou o cardeal, uma vez que são naturais na Igreja. O próprio João Paulo II, recorda, foi responsável por um importantíssimo desenvolvimento da doutrina com a sua teologia do corpo: "É um desenvolvimento que a teologia tradicional não conhecia".
"Não sabemos o que o Papa Francisco contribuirá para este desenvolvimento teológico, mas o que ele está a pedir agora é uma compaixão pastoral."
É normal, considera o cardeal, que esta tensão entre compaixão e doutrina resulte em diferenças de opinião e discussões entre os bispos. "É como numa família", explicou o arcebispo de Viena: "a mãe diz 'Cuidado, é perigoso', mas o pai diz para não ter medo."
Grupos já terminaram sugestões de emendas
A conferência de imprensa iniciou-se com uma nota do padre Federico Lombardi, da sala de imprensa da Santa Sé, a referir que os dez grupos que têm estado a debater o relatório intercalar desde segunda-feira já terminaram e entregaram as suas sugestões de emendas ao texto.
O
relatório intercalar motivou bastante polémica pela linguagem inovadora que emprega em relação ao valor de uniões irregulares e homossexuais e o acolhimento a dar a estas.
O relatório de cada grupo de trabalho foi entregue à imprensa, mas o Vaticano realça que continuam a ser apenas documentos de trabalho e que não devem ser citados como decisões definitivas.
As emendas e sugestões entregues agora ao secretariado do sínodo serão concentrados num relatório final, que se tudo correr como previsto será votado no sábado. Este processo é inédito, contudo, e não é certo que os bispos consigam chegar a acordo a tempo de haver um documento a apresentar ainda antes do final oficial do sínodo.
A partir desta mensagem será redigido, então, um documento final a ser apresentado posteriormente.
Papa chama conservadorFoi anunciado esta quinta-feira que o Papa Francisco voltou a adicionar pessoas à comissão encarregue de redigir a mensagem final.
Depois de ter surpreendido tudo e todos ao nomear seis pessoas, quase todas de tendência liberal, para auxiliar nesta tarefa o Cardeal Peter Erdö, que é visto como conservador, foi nomeado esta quinta-feira o Cardeal Napier, da África do Sul, o mesmo que na terça-feira, na conferência de imprensa, foi extremamente crítico em relação ao conteúdo da mensagem intercalar.
Mas o Vaticano explica que a nomeação foi feita para garantir a presença de pelo menos uma voz africana na comissão e, pela mesma razão, nomeou o arcebispo Denis Hart, de Melbourne, na Austrália.
O sínodo da família termina no domingo, com uma missa em que será beatificado o Papa Paulo VI.
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