“A crise da fé está na origem da crise da família”, disse esta quarta-feira o arcebispo Fisichella, concluindo que “onde a fé é forte a família é forte”.
A frase do arcebispo foi acompanhada pelo Cardeal Sistach, de Barcelona, que explicou como na sua diocese tem havido um grande empenho em reforçar a oração das famílias, sobretudo pelo sínodo da família que está a decorrer em Roma e que pretende responder a várias das questões que marcam a sociedade actual.
Para grande surpresa do cardeal, os trabalhos da primeira semana têm mostrado que estes problemas não são específicos ao mundo desenvolvido: “Constatámos que os problemas que nos pareciam ser mais específicos aos países desenvolvidos são-nos em quase todos os continentes. Os problemas dos casamentos, dos jovens que adiam os casamentos, acontecem também noutros continentes.”
Calma depois da tempestade
Os três bispos, que esta quarta-feira se apresentaram na sala de imprensa da Santa Sé, fizeram questão de sublinhar que existe um grande espírito de fraternidade nos trabalhos.
Tanto o arcebispo Kurtz, presidente da Conferência Episcopal Americana, como os cardeais Fisichella, responsável pela Comissão Pontifícia de Promoção da Nova Evangelização e Sistach, realçaram o bom ambiente que reina entre os bispos e restantes delegados presentes nos trabalhos sinodais.
Os últimos dois dias foram marcados por alguma polémica. Na segunda-feira, o Vaticano apresentou um relatório intercalar, que resume os trabalhos da primeira semana do sínodo e serve de documento de trabalho para a segunda. Este texto incluía uma linguagem em relação ao acolhimento de pessoas em uniões irregulares e de homossexuais, por exemplo, classificada por alguns como revolucionária.
Mas na terça-feira, os bispos que se apresentaram na conferência de imprensa diária foram extremamente críticos tanto do documento, como do tratamento que lhe tem sido dado pela imprensa. O Cardeal Napier, da África do Sul, disse que não se identificava com o texto, que só viu depois de ter sido entregue à imprensa, achavando que a sua publicação podia ter causado mais mal do que bem.
Esta quarta-feira todos os bispos realçaram o facto de se tratar de um documento de trabalho e não um texto definitivo e que nos pequenos grupos em que estão agora a trabalhar se estão a propor emendas para “aprofundar e melhorar” o texto. O arcebispo Fisichella considera que esta semana - dedicada ao trabalho em pequenos grupos, organizados por critérios linguísticos - é sempre o mais produtivo, uma vez que todos têm mais tempo para intervir.
Sem discussão seria um aborrecimento Fisichella abordou ainda uma das críticas que tem sido feita ao relatório, concordando que é preciso dar alguma atenção também para encorajar as famílias que se esforçam por viver os seus casamentos da forma cristã, em vez de focar apenas os problemas.
Em resposta a uma pergunta de um jornalista, o mesmo afirmou que existe uma grande ignorância em torno dos métodos de planeamento familiar, cujo valor é reforçado no relatório intercalar, e que esta se deve em parte a uma espécie de “boicote” sobre o assunto.
Sobre outros temas polémicos que estão contidos no relatório, como da valorização de uniões irregulares e até mesmo de aspectos positivos de uniões homossexuais, o Cardeal Kurtz enfatizou que, pelo menos, no seu grupo de trabalho a tónica tem sido colocada na questão de adoptar uma abordagem de acolhimento, mas que há a preocupação de fazer um estudo aprofundado para que qualquer solução pastoral seja teologicamente bem fundada.
Apesar de terem realçado os aspectos positivos, os bispos não disfarçaram a existência de discussão e de diferenças de opinião entre os participantes do sínodo. Fisichella terminou mesmo a sua intervenção na conferência de imprensa valorizando essas discussões e dizendo que sem elas, o sínodo seria um grande aborrecimento.
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