08 ago, 2015 • João Carlos Malta
O Banco de Portugal recebeu na última sexta-feira as últimas propostas dos três finalistas à compra do Novo Banco. E só um melhorou o valor anteriormente oferecido. Estes dados reforçam a ideia de que a venda ocorrerá por valores inferiores aos 4,9 mil milhões de euros investidos pelo fundo de resolução. E se tal acontecer antes das eleições legislativas este pode tornar-se num tema de campanha?
O politólogo António Costa Pinto acredita que sim. O cenário de uma venda em que os contribuintes sejam chamados a pagar ,seja via impostos pelo buraco que puderá deixar no Orçamento de Estado, seja via participação do Estado na Caixa Geral de Depósitos, trará consequências negativas. Os alvos serão dois.
“No caso de a venda se dar com penalização para os contribuintes, há duas instituições que sofrerão. A primeira é o Banco de Portugal que mais uma vez viu renovado o mandato do seu presidente sem nenhum pacto com o principal partido da Oposição, pelo que as críticas vão surgir. E vão acabar por ter algum impacto negativo nos dois partidos da coligação, PSD e CDS”, concluiu.
Em declarações à Renascença, Costa Pinto não acredita que a venda se concretize no imediato, e crê que o executivo tudo fará para a atrasar. “Parece não haver dúvida que ao Governo interessa que a venda ocorra depois das eleições”, concluiu.
Não é o momento para vender, nem os candidatos dão garantias
Mas se do ponto de vista político, no que diz respeito à estratégia do Governo a melhor opção passa por adiar a venda do Novo Banco, economicamente, na opinião do especialista Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira, prorrogar no tempo a venda também é a opção mais interessante. Mas as razões são diferentes da mera táctica política. Há vários riscos económicos pelo caminho.
“Há muita incerteza, nomeadamente relativamente a alguns candidatos à compra como os chineses, cuja bolsa está num ‘crash’. A venda de um banco a um novo accionista é uma operação de risco e sobretudo com os perfis que estes têm. São ‘private equity’ e seguem estratégias de crescimento arriscadas. Desconfio que até o Banco Central Europeu possa ter reservas relativamente a certo tipo de investidores”, defende o economista.
Na corrida, estão os chineses da Fosun (já proprietária da seguradora Fidelidade e da ES Seguro) e da Angbang e o fundo norte-americano Apollo. Os três passaram à fase final com propostas vinculativas. Pelo caminho, ficaram 13 interessados.
Ricardo Cabral reconhece que o Governo pode ter a tentação de “mostrar resultados” e poder afirmar que “a operação ficou concluída” no prazo de um ano, tal como tinha prometido.
Mas o economista defende que “uma decisão destas deve ser tomada pensando nos custos e nos benefícios e não necessariamente para manter a palavra a todo o custo”.
Mas qual seria a melhor altura para vender o Novo Banco? Cabral pensa que esta chegará quando houver “menos incerteza” e “melhores candidatos”. E sugere que o caminho a seguir neste processo pode passar pela venda através de dispersão em bolsa.
O economista adverte para os problemas que podem surgir se o negócio correr mal. “O BCE terá de intervir e fá-lo-á já de acordo com as novas regras que obrigam a perda de dinheiros dos depositantes”.
“É uma operação de grande risco. Se correr mal, as consequências serão muito piores do que já foram até aqui. E até aqui já foram muito más”, sublinhou.
Apesar da discussão pública andar muito à volta do valor da venda, e se a mesma atinge ou não os 4,9 mil milhões de euros, Ricardo Cabral acredita que esse não é o factor mais importante.
“O Novo Banco tem um balanço de 70 mil milhões de euros, e se acontecer alguma coisa aos depositantes e aos trabalhadores pode gerar muito mais prejuízos à sociedade em geral. O que interessa é a saúde e robustez do banco e os candidatos à compra não oferecem essas garantias”, rematou.