14 jun, 2015
Na pediatria do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa vive, há cerca de um ano, o “Gasparzinho”, um pequeno robô social construído para interagir com as crianças, num projecto coordenado pelo Instituto Superior Técnico (IST).
Gabriel, de seis anos, corre atrás do pequeno robô, corredor acima, corredor abaixo, até ficar cansado. O menino sorri quando o "Gasparzinho" lhe sorri, lhe pisca o olho ou lhe estende a mão. E fala com ele, como se de um amigo verdadeiro se tratasse." Ele não fala muito. Diz olá e não percebo a outra palavra", disse o menino à agência Lusa.
No entanto, quando chegou ao IPO, há quase um ano, o robô, que parece saído de uma série de ficção científica, ainda fazia menos coisas e chamava-se MBOT. Foi já no instituto que alguém o humanizou como "Gasparzinho" e o nome pegou.
Desde então, os técnicos têm estudado a relação do aparelho com as crianças e feito pequenas modificações que melhoraram as suas capacidades sociais.
"A recepção aqui no IPO, a todos os níveis, desde as crianças, o ‘staff’, os próprios pais, tem sido extraordinariamente positiva. A nossa vontade é continuarmos a desenvolver este tipo de actividade, porque o ‘feedback’ é fantástico", afirma João Sequeira, do IST.
O robô ainda não tem todas as suas capacidades em funcionamento. No futuro, os técnicos pretendem que possa projectar um tabuleiro no chão e jogar um jogo com duas ou três crianças, além de controlar os meninos que muitas vezes usam o corredor para correr ou andar de triciclo.
Outra vertente "é servir de auxiliar na sala de aulas [o IPO tem uma sala de aulas com três professores], ajudando em pequenas coisas os professores", revela João Sequeira.
"Gasparzinho" combate o isolamento dos miúdos
Regra geral, as crianças reagem ao aparelho de acordo com o seu grupo etário. "Há crianças muito pequenas que tendem a humanizá-lo imediatamente, a achar que ele é um de nós, há outros que ficam com dúvidas, portanto, há ali qualquer coisa, por um lado parece que sim, é um de nós, por outro lado não é. E depois há os maiores, que conseguem ter a sua distanciação", explica Filomena Pereira, directora da pediatria do IPO.
O projecto assume uma grande importância, porque combate o isolamento dos miúdos e estimula a "interacção de grupo", destaca a responsável.
"A importância é, sobretudo, contrariar a tendência do isolamento nos seus próprios jogos, nos seus próprios ‘gadgets’ individuais, que os miúdos têm e que, quanto a mim, é extremamente preocupante em termos de construção da personalidade da relação interpessoal", salienta Filomena Pereira.
A directora da pediatria do IPO sublinha que este é "um projecto complexo e muito ambicioso", porque também as relações humanas são complexas.
"Seria fácil se ele estivesse aqui a fazer rigorosamente a mesma coisa e a reagir de forma idêntica com todas as crianças. Mas a ideia é que ele estabeleça uma relação num padrão individual e penso que tem sido isso que tem feito demorar mais a evolução, até à conclusão do projecto", afirmou.
A figura do pequeno robô branco foi criada por designers, com base num inquérito e desenhos de 119 crianças e adolescentes de escolas portuguesas.
O MBOT, que agora é Gasparzinho para os amigos, é uma iniciativa integrada no programa europeu MOnarCH (Multi-Robot Cognitive Systems Operating in Hospitals), que envolve o Instituto de Sistemas e Robótica do IST e oito parceiros portugueses e europeus.