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"Tive uma relação de amor com o Citroën 'boca de sapo'"

22 mai, 2015 • Hugo Monteiro

Francisco Romãozinho, vencedor de um Rali de Portugal ao volante de um Citroën DS 21, fala do popular "boca de sapo", numa altura em que se assinalam os 60 anos do lançamento do famoso modelo. Há 600 exemplares do carro em Portugal.

"Tive uma relação de amor com o Citroën

"Tive uma relação de amor com o Citroën 'boca de sapo'". A confissão é de Francisco Romãozinho, o antigo piloto de automóveis que venceu um Rali de Portugal - o de 1969 - ao volante de um Citroën DS 21.

Numa altura em se assinalam os 60 anos do lançamento do famoso Citroen DS,  popularmente conhecido como “boca de sapo”, Romãozinho confessa, em entrevista à Renascença, que mantém uma ligação sentimental com o modelo. “Tive uma relação de amor com esse automóvel”, explica, confessando ter sentido “muita pena quando o carro deixou de ser produzido”.

O modelo "boca de sapo" foi apresentado, pela primeira vez, no Salão de Paris de 1955, depois de mais de uma década a ser desenvolvido pelo engenheiro André Lefèbvre e o designer Flaminio Bertoni. Em Paris, está em curso uma semana inteiramente dedicada a este carro, com a maior concentração do ano do famoso modelo. No domingo, a feira encerra com os cerca de 700 carros em exibição a percorrerem as margens do Sena e a Avenida dos Campos Elísios.

“Era um carro muito à frente da sua época”, continua Francisco Romãozinho. "Só para dar um exemplo, na altura, já tinha uma caixa sequencial automática, algo que só muitos anos depois chegou aos carros de Fórmula 1.”

O antigo piloto de ralis recorda o “boca de sapo” como “um automóvel bastante grande que se guiava como um Mini”, que tinha uma suspensão característica que permitia afastar ou aproximar a carroçaria do chão, ou seja, levantar ou baixar o carro, para o adaptar ao tipo de piso. “Era a parte espectacular do carro”, diz Romãzinho.

Made in Mangualde
O “boca de sapo” está intimamente ligado a Portugal, uma vez que “foi produzido em Mangualde”, na unidade da Citroën, nos anos 1970. "Há versões do DS que são, precisamente conhecidas como ‘as de Magualde’”, conta à Renascença Tiago Patrício Gouveia, do Museu do Caramulo.

“Era um carro topo de gama”, recorda ainda Patrício Gouveia, lembrando que o modelo “era, naturalmente, utilizado por personalidades e chefes de Estado". O general de Gaulle, em França, ajudou à popularidade do "boca de sapo" e, por cá, "também Marcelo Caetano usou um Citrooën DS, especialmente preparado para chefes de Estado”.

Conhecedor da história do automóvel - e de muitos automóveis - Tiago Patrício Gouveia recorda que há 60 anos, "no primeiro dia da apresentação do Citroen DS, em França, foram colocadas 12 mil encomendas, o que foi espectacular para a época, tornando-o um campeão de vendas”.

O responsável do Museu do Caramulo sublinha o design “revolucionário” do carro, que ainda hoje o faz ser conhecido, em Portugal, como “boca de sapo”, e o fez ganhar “o seu espaço na história do automóvel”.

Tiago Patrício Gouveia conta que, depois de muito tempo à procura de um exemplar, o Museu do Caramulo tem, desde o ano passado, um "boca de sapo" no seu espólio, graças a uma doacção.

Cerca de 600 "bocas de sapo" em Portugal
Em Portugal, estima, "serão cerca de 600” os Citroen DS. As contas são do ID-DS Automóvel Clube, que junta os proprietários e fãs deste carro. José Mendonça reconhece que “uma das coisas que as pessoas admiram neste carro é a sua suspensão - o levantar e o baixar -, mas o carro não tem só isso".

"Para além da suspensão, nas luzes tinha uma característica muito pouco comum: os faríois viram para um lado e para outro, conforme se vira o volante”, explica.

A buzina é também diferente, com um som para a cidade e outro para a estrada. “Quando levei o meu 'boca de sapo' à inspecção, pediram-me para buzinar. E eu buzinei com dois sons diferentes. O senhor inspector ficou surpreendido e eu tive de mostrar os documentos do carro, com as suas características, para provar que era mesmo assim”, conta José Mendonça.