Nos últimos sete anos, Portugal perdeu 1.218 jornalistas em grande parte devido ao desemprego, indica o Observatório Europeu de Jornalismo (OEJ), que cita números da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ).
Segundo este último órgão, o número de carteiras profissionais baixou de 6.839, em 2007, para 5.621, em 2014, uma descida de 17,8%.
Entre 2007 e 2001, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) recebeu 566 pedidos novos de subsídio de desemprego na Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas.
Para além dos despedimentos – que, entre 2012 e 2014, atingiram centenas de trabalhadores da Controlinveste, Sol, Agência Lusa, Público, Impala, Cofina e Diário de Notícias da Madeira – também os vínculos precários contribuem para estas estatísticas.
Os falsos recibos-verdes, falsos free-lancers e os falsos estágios (em que se inclui a utilização de estudantes no processo produtivo) são algumas das situações denunciadas pelo SJ.
Manuel Pinto, catedrático da Universidade do Minho, descreve estes trabalhadores precários como “pessoas pagas à peça mas que têm um horário como se estivessem a tempo inteiro”, o que contribui para um “clima pouco propício à exigência ética e ao rigor, que é muito preocupante”, refere ao OEJ.
Também José Rebelo, catedrático do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), está preocupado: “É compreensível que os jovens estagiários não dêem prioridade às regras éticas e deontológicas porque a sua prioridade é obter um lugar na redacção, o que provoca conflitos nas redacções e diminui o seu poder reivindicativo”.
O Observatório Europeu do Jornalismo refere ainda o estudo
“As Novas Gerações de Jornalistas Portugueses”, feito a 515 profissionais, e que conclui que “a profissão deixou de ser uma missão, de tentar salvar o mundo” e que 42% dos inquiridos admitem vir a ser despedidos e 20% consideram isso muito provável.
“Portanto, 62% admitem vir a mudar de profissão. O patronato não terá dificuldade em despedir porque essa expectativa já existe”, conclui Rebelo.
Precariedade nas camadas mais jovens
Se por algum tempo os jornalistas mais velhos davam lugares aos funcionários mais novos – e mais baratos – agora os mais jovens também estão a ser despedidos, “pondo em causa a renovação das redacções”, alerta o observatório.
A solução encontrada pelas redacções é a contratação de estagiários. O número de títulos de estagiários na CCPJ chegou aos 248 em 2014, quando não ultrapassava os 100 desde 2008.
Alguns destes pedidos estão relacionados com os programas de estágios remunerados, de um ano, do Instituto do Emprego e Formação Profissional.
Contudo, o estágio também não garante a carteira profissional já que muitos jovens não conseguem renovar o título porque não têm como justificar que continuam, depois dos estágios, a exercer a profissão.
Há ainda quem não tenha a carteira profissional porque não são remunerados: “há gente que trabalha sem receber porque há lista de espera para estes novos escravos”, lamenta Manuel Pinto.