"Infelizmente, o horário de trabalho do Presidente não permitirá que ele faça isso a 3 de setembro, então ele decidiu fazê-lo hoje", disse o porta-voz do Kremlin, esta quinta-feira.
As peças no grande tabuleiro de xadrez que a Ucrânia se transformou, desde 24 de fevereiro, ainda se movimentam. Putin arriscou muito, mais do que antecipara. Era suposto ser uma blitzkrieg de dois dias. Mas Zelenskiy e os militares ucranianos, com o apoio dos estados-membro da União Europeia e dos EUA, revelaram-se opositores de monta. Ao centésimo dia de guerra, deixou de ser claro quem irá desferir o xeque-mate. Quando e se o houver.
É possível cobrir uma guerra dos dois lados? Só se for do interesse de ambos. “Na crise no Kosovo, os sérvios tinham a perceção de que se colocassem meios de comunicação ocidentais rapidamente em locais dos bombardeamentos da NATO, isso iria minar o apoio público pela guerra. Eles tinham algo a ganhar com isso”, lembra Jake Lynch, antigo jornalista da Sky News, em declarações à Renascença.Na guerra na Ucrânia, o acesso às trincheiras russas tem sido um problema. “Temos de ir à procura do contraditório. Mas aqui não há contraditório, porque o contraditório é falso”, diz a professora universitária Dora Santos Silva.
Dezenas de diplomatas russos foram expulsos nas últimas semanas de vários países europeus, acusados de espionagem. Há décadas que a Rússia “mexe cordelinhos” nas sombras, incluindo em Portugal. No pós-25 de Abril, vários agentes de Moscovo operaram em Lisboa. Na Guerra Fria, ser diplomata era ser “uma espécie de produto engravatado da era James Bond”, diz Seixas da Costa. Ainda em 2016, o ex-espião Carvalhão Gil foi apanhado a vender segredos da NATO a um agente russo.
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, anunciou hoje que 12 membros da sua missão diplomática receberam ordens para deixar os Estados Unidos até final de março.
Luis Tomé explica que, neste momento, há muitos cenários que podem servir de "um rastilho bastante perigoso" para despoletar um confronto direto entre Rússia e as forças da NATO. Independentemente dos objetivos finais, o professor de Relações Internacionais acredita que, a curto-prazo, Putin "quer reforçar a posição da Rússia à mesa das negociações". E avisa que a China poderá aproveitar para invadir Taiwan.