Vilar de Mouros. O festival da "nostalgia" que põe a "rockar" diferentes gerações
As portas para os concertos abrem esta quarta-feira, às 16h, com entrada livre, mas a pequena freguesia minhota já começou a receber campistas.
As portas para os concertos abrem esta quarta-feira, às 16h, com entrada livre, mas a pequena freguesia minhota já começou a receber campistas.
“Viemos para este festival mítico que é o mais antigo da Península Ibérica”, atira João, um de oito amigos que desde domingo montou tenda no festival de música de Vilar de Mouros.
O grupo vem de Paredes, dos arredores do Porto, e ocupou uma área generosa onde até dá para praticar foot-net numa mesa improvisada.
Outros festivaleiros seguiram a mesma estratégia, antecipando por alguns dias a sua chegada, pelo que, quem chegar à pequena vila localizada em Caminha a partir de quarta-feira, para o primeiro dia de concertos, vai encontrar poucos lugares disponíveis com sombra.
As expectativas para os quatro dias de concertos que vão decorrer até sábado são elevadas. “Vamos curtir muito o festival. Vamos ver as bandas todas”, afirma outro João, pertencente ao mesmo grupo.
Ainda assim, é possível perceber que o cancelamento do espetáculo de Queens of the Stone Age provocou alguma mossa. “Fiquei um bocado triste”, reconhece o jovem.
A ausência da banda liderada por Josh Homme obrigou mesmo a organização a fazer mudanças de última hora no alinhamento, que passaram por oferecer a entrada livre para a primeira noite, inteiramente dedicado às bandas portuguesas, e a chamar os The Cult para reforçar o cartaz de 22 de agosto.
A gente veio pelo convívio e pela aura deste festival - Filipe
No entanto, para este grupo o importante mesmo é viver o espírito do festival. “A gente veio pelo convívio e pela aura deste festival. Eu comprei o bilhete por causa disso, nem foi por causa dos concertos. No entanto, The Cult e Waterboys vão puxar. Sim, vai ser um bom festival”, remata Filipe.
Soulfly, The Darkness ou Die Antwoord são outros nomes em destaque na edição deste ano.
Ali perto, Miguel, de 53 anos, e os seus dois filhos (Alexandre, de 27, e Miguel, de 17) também já estão instalados nas suas tendas e a preparar o almoço.
“Ficou combinado virmos os três”, explica o pai. Uma coluna de som reproduz "The Dogs of War". Um clássico dos Pink Floyd que faz as delícias dos dois Miguéis da família, apesar da diferença de idades. "É fantástico, uma banda clássica", diz o mais novo.
É um festival familiar também, não é só de cotas - Alexandre
Alexandre é o cozinheiro de serviço e vai remexendo o conteúdo de uma frigideira, a preparar o que chama de “Massum”, uma massa com atum. "É a cena mais fácil de fazer. Ontem foi panados com arroz de tomate, mas agora o nível só vai baixar", avisa, entre risos.
Para ele, esta mistura de gerações é própria de Vilar de Mouros. “Venho de Paredes de Coura [festival que se realizou na semana passada a pouco mais de 30 km de distância] e vejo que há muito mais gente nova e neste festival reparo que há pessoas mais velhas. As vibes são diferentes, mas a grande diferença é que há bandas mais nostálgicas. É um festival familiar também, não é só de cotas. Vejo muitas famílias aí”.
Prova disso é a família Gonçalves, oriunda de Sousela, Lousada. Acabaram de chegar ao recinto e estão a montar as três tendas que vão acolher três gerações de festivaleiros.
O avô Ernesto, com 65 anos, é que inspirou os restantes a vir. “Já venho há muitos anos”, explica. A primeira vez foi em 82, quando ainda não existiam nem de perto nem de longe as mesmas condições para acolher o público. “Acampámos numa casa abandonada. Havia seis ou dez habitantes aqui”.
“A ideia deste ano é fazer uma experiência nova, um campismo em família num festival ” - Ernesto
Desde então nunca mais parou de vir. “É um festival mais puro. Um festival da saudade, para rockar", diferente de todos os outros. O único para o qual admitiria trazer a família.
“Já fizemos praia, já fizemos cidade, já voámos. E a ideia deste ano é fazer uma experiência nova, um campismo em família num festival como Vilar de Mouros”, acrescenta um dos seus dois filhos, também chamado Ernesto.
Depois de desafiada, a mais nova do grupo, a pequena Mia, começa a cantarolar “A minha casinha”. O concerto dos Xutos e Pontapés, no dia 22 de agosto, é aquele que não vai querer perder.
Antes disso ainda, as portas do festival abrem esta quarta-feira, às 16h e à imagem de outros anos são esperadas dezenas de milhares de pessoas na vila minhota.