​Tesouro único com obras de Portugal integra futuro museu em Jerusalém

A inauguração, em Jerusalém, do Museu da Terra Santa está prevista para finais de 2025. Até lá, cerca de 70 destas peças preciosas vão integrar uma inédita exposição em Lisboa, no Museu Calouste Gulbenkian, intitulada “Theatrum mundi: Doações Régias ao Santo Sepulcro”.

08 mar, 2023 - 21:49 • Aura Miguel



Lâmpada em ouro oferecida por D. João V. Foto: Terra Sancta Museum/Guillaume Benoit
Lâmpada em ouro oferecida por D. João V. Foto: Terra Sancta Museum/Guillaume Benoit

A Custódia da Terra Santa, há mais de 800 anos confiada aos frades franciscanos, com a missão de cuidar dos lugares santos, tem um património notável de obras de arte doadas, ao longo dos séculos.

A origem destas obras é variada, muitas delas são provenientes de grandes casas reais e vão ficar expostas no futuro “Terra Sancta Museum”, ainda em preparação, na cidade velha de Jerusalém, perto da Basílica do Santo Sepulcro.

Mais de mil obras de arte poderão ser apreciadas num espaço de 1.000 metros quadrados, com 23 salas de exposição, uma delas intitulada “Sala das ofertas de Portugal”. Entre as preciosidades oferecidas pelo nosso país, conta-se uma imponente lâmpada em ouro e um conjunto de paramentos pontificais de veludo bordado a prata, com 14 peças, oferecido por D. João V, uma bacia de prata usada para o lava-pés dos peregrinos, doada por D. Pedro II, uma cruz peitoral ornada de ametistas e diamantes, doada por D. João VI, e um altar portátil de madeira com embutidos do século XVIII.

"Estas peças estão vivas”

De passagem por Lisboa, o frei Rodrigo Machado Soares, cerimoniário e responsável pelo serviço de bens culturais da Custódia da Terra Santa, apresentou esta semana o projecto, numa sessão organizada pela secção portuguesa da Custódia, em parceria com a Lugar-tenência em Portugal da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.


Altar portátil. Foto: Terra Sancta Museum
Altar portátil. Foto: Terra Sancta Museum


Em declarações à Renascença, frei Rodrigo sublinhou que alguns destes objetos preciosos continuam ao serviço em atos litúrgicos. “Por exemplo, a bacia de prata doada, em 1673, por D. Pedro II, para lavar os pés dos peregrinos, ainda hoje é usada para o lava-pés da Quinta-Feira Santa, ou seja, as peças do Museu não estão mortas, são peças vivas porque ainda continuam ao serviço do culto divino”, afirmou.

O responsável pelo tesouro da Custódia da Terra Santa acrescentou ainda que “as peças oferecidas por Portugal não se limitarão apenas a uma galeria, porque algumas delas estarão expostas noutras salas, como por exemplo, a mitra doada pela rainha D. Maria I que vai ficar na Sala didática”.

O objetivo desta sala e de todo o Museu “é ser um lugar de encontro e de diálogo, não só para os cristãos, mas também para muçulmanos, judeus e todos os que desconhecem o porquê destes objectos”, acrescentou.

Os tesouros do Santo Sepulcro em Lisboa

A inauguração, em Jerusalém, do Museu da Terra Santa está prevista para finais de 2025. Até lá, cerca de 70 destas peças preciosas vão integrar uma inédita exposição em Lisboa, no Museu Calouste Gulbenkian, intitulada “Theatrum mundi: Doações Régias ao Santo Sepulcro”.


Bacia em prata D. Pedro II. Foto: Terra Sancta Museum/Guillaume Benoit
Bacia em prata D. Pedro II. Foto: Terra Sancta Museum/Guillaume Benoit
Evangeliário oferecido por D. Duarte Nuno de Bragança. Foto: Terra Sancta Museum
Evangeliário oferecido por D. Duarte Nuno de Bragança. Foto: Terra Sancta Museum


O diretor do Museu, António Filipe Pimentel, também participou nesta apresentação e explicou à Renascença que, após este tesouro ter sido exposto no Palácio de Versailles, em 2012, todas estas peças deveriam ficar em permanência e para sempre no futuro Museu de Jerusalém.

No entanto, devido à Covid-19 e ao atraso das obras de reabilitação arqueológica do edifício, “há males que vêm por bem e surgiu esta oportunidade para apresentar as peças em Lisboa”, esclareceu.

Além das peças portuguesas, onde também se inclui um missal encadernado a prata, oferecido por D. Duarte Nuno, nos anos 30 do século XX, António Filipe Pimentel, destaca "as peças maravilhosas oferecidas, sobretudo, por Nápoles, Espanha, ou Áustria; estou a pensar, por exemplo, no baldaquino de ouro e lápis lázuli, oferecido por Nápoles, que é uma peça extraordinária”.

O especialista em história de arte e diretor do Museu Gulbenkian acrescenta que se trata de “um acervo incrível que, para além do seu aspeto religioso e estético, tem também um significado histórico e político porque, durante séculos, a Terra Santa funcionou como o grande teatro da diplomacia internacional, onde as grande potências rivalizavam em ofertas para terem repercussão nas cortes europeias. No fundo, é essa história que a exposição vai contar. Será uma exposição incrível”, concluiu António Pimentel.

A “Theatrum mundi: Doações Régias ao Santo Sepulcro” está agendada para novembro de 2023, no Museu Calouste Gulbenkian.


Paramentos pontificais oferecidos por D. João V. Foto: Terra Sancta Museum
Paramentos pontificais oferecidos por D. João V. Foto: Terra Sancta Museum

Artigos Relacionados