Explicador. O que é o TikTok?

Mas, afinal, o que é o TikTok, por que razão é diferente das restantes redes e que polémicas já enfrentou no seu curto percurso?

12 set, 2022 - 06:50 • Daniela Espírito Santo



Ilustração: Rodrigo Machado/RR
Ilustração: Rodrigo Machado/RR

Lançado em 2017, o TikTok é uma rede social celebrada, sobretudo, pela Geração Z, onde são partilhados vídeos verticais de curta duração. Ultrapassou os mil milhões de utilizadores em novembro de 2019 e foi a rede social que mais rapidamente o fez, sendo cada vez mais uma ameaça aos principais “players” no mercado, como o Instagram.

Propriedade da chinesa ByteDance Lda. - uma espécie de Meta asiática fundada em 2012, avaliada em mais de 68 mil milhões de euros - não está, ironicamente, disponível na China: lá, a empresa tem outra app similar chamada Douyin, onde as regras são mais apertadas.

É uma das aplicações mais utilizadas no mundo neste momento e a sua origem preocupa muitos governos ocidentais. Há quem acredite que as suas políticas de moderação bebem da censura exercida pelo governo local aos seus cidadãos e muitas dúvidas foram lançadas aquando dos protestos em Hong Kong, em 2019.

Aliás, a ByteDance já foi escrutinada pelo Congresso norte-americano pela sua aparente ligação ao partido comunista chinês.

Com escritórios nas principais capitais do planeta (entre Los Angeles, Tóquio, Paris, Barcelona ou Berlim), o TikTok assume-se como uma “plataforma global de entretenimento” e assegura chegar a um universo de mil milhões de pessoas. Em Portugal, também cresce a olhos vistos, especialmente desde a pandemia.

Um mundo de polémicas

Na sua página dedicada à transparência diz que a “tecnologia é uma porta de entrada essencial para o exercício dos direitos humanos”. Nesse sentido, assegura que os governos têm a responsabilidade “de proteger os direitos humanos” e o TikTok tem a responsabilidade de “respeitar esses direitos humanos” usando, para tal, a Carta Internacional dos Direitos Humanos e os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos.

A empresa garante que cumpre “as leis e regulamentos aplicáveis destinados a promover os direitos humanos onde realizamos negócios globalmente” e que avalia de forma contínua as suas operações para garantir que tal aconteça, almejando por ter um “impacto positivo”. Para tal, utilizam um autêntico batalhão silencioso de moderadores de conteúdos, que colocam em prática as diretrizes da rede social.

Em 2020, no entanto, uma investigação do The Intercept dizia que “os fabricantes do TikTok instruíram os moderadores a suprimir publicações criadas por utilizadores considerados muito feios, pobres ou com deficiências”, num esforço para atrair novos utilizadores. Um representante garantiu que os documentos, criados em 2019, já não eram usados pela plataforma ou nunca chegaram a ser usados, tendo feito parte de uma tentativa de “prevenir bullying”.

O mesmo discurso foi usado para justificar uma investigação similar, publicada ainda em 2019 na Alemanha pelo Netzpolikit.org, um site sobre direitos digitais, que também adiantou ter acesso a informação que confirmava que a aplicação rebaixava conteúdo onde se falasse mal da aplicação em si ou se mencionassem outras aplicações concorrentes.

No Reino Unido, também o The Guardian publicou um trabalho sobre as proibições da rede social relativamente ao governo de Pequim, censurando conteúdo com a praça de Tiananmen, por exemplo. Neste caso, a ByteDance admitiu que, nos primórdios da aplicação, foram feitos esforços para “minimizar conflito na plataforma”, que passavam por penalizar “conteúdo que promovia conflito, como, por exemplo, entre religiões ou grupos étnicos, em diversas regiões pelo mundo fora”.

“Essas diretrizes antigas estão desatualizadas e não são usadas atualmente”, foi dito. Em declarações passadas, a aplicação defendeu as suas escolhas dizendo que é “um espaço de entretenimento, não política”.

TikTok e as crianças

A influência que o TikTok pode ter nas crianças voltou a ser tema recentemente, com a morte de Archie Battersbee, uma criança britânica de 12 anos que ficou vários meses em morte cerebral depois de ter, alegadamente, participado num desafio de TikTok.

O episódio relançou o debate sobre o que as crianças consomem nas redes sociais e qual o papel que os pais podem ter na utilização destas plataformas pelos filhos.

Em destaque o algoritmo usado pelas redes sociais, que “está feito para que o utente consuma o mais possível”, como nos explicou Carolina Esteves Soares, técnica operacional da Linha Internet Segura. “Se a pessoa gosta de consumir certo tipo de conteúdo, é isso que vai parar ao seu feed. E quanto mais consumir, mais recebe”, corrobora.

Tal facto poderia ser inócuo, mas pode ter consequências nefastas em casos específicos. “O TikTok montou o algoritmo de uma forma para nos mostrar o que nós queremos ver. Se eu tiver uma personalidade depressiva e ver vídeos depressivos, ele vai-me mostrar cada vez mais vídeos depressivos”, explica Tito de Morais, especialista em segurança online e fundador do portal “Miúdos Seguros na Net”.

Para além disso, a própria natureza da plataforma torna-a “numa aplicação mais permeável a certos tipos de criminalidade”, dando “acesso mais fácil” a “predadores sexuais”, como explica à Renascença Ricardo Estrela, gestor da Linha Internet Segura. O facto de ser uma rede social muito usada pelos mais novos e ser, maioritariamente, visual pode ser um cocktail perigoso que atrai quem quer aliciar “menores para fins sexuais online”, o chamado “grooming”.

Plataforma “especialmente suscetível" a desinformação viral

O conflito na Ucrânia representa mais um desafio para a rede social.

Nesta batalha pelos olhos e atenção dos internautas, especialmente durante um acontecimento tão global, o TikTok é um dos preferidos de quem usa a Internet, mas “apresenta um desafio para os utilizadores que queiram decifrar o que é facto e o que é ficção”, diz um relatório sobre o tema. “Diversos recursos da infraestrutura tecnológica do TikTok e a sua cultura de utilizador tornam a plataforma especialmente suscetível a hospedar e espalhar informação recontextualizada e outros tipos de desinformação viral”.

Entre eles figuram a possibilidade de republicar vídeos roubados a terceiros sem atribuição de direitos de autor, que podem ser facilmente descontextualizados, vídeos esses que estarão presentes na mesma aplicação mesmo ao lado de conteúdo original. A própria aplicação incentiva a edição de vídeos e áudio, oferecendo uma panóplia de opções para personalizar conteúdo, uma das razões que explicam a sua popularidade. Estas ferramentas podem ser usadas para criar conteúdo criativo novo…ou para manipular.

Conteúdo de “estranhos” em destaque

Muitos utilizadores usam pseudónimos naquela rede social, tornando-se difícil discernir a origem do conteúdo e a autoria de quem o publica. A própria estrutura da aplicação, com a sua página “para você” selecionada por um algoritmo que favorece o que poderá gerar maior interação, coloca em maior destaque conteúdo de “estranhos” e não de amigos e conhecidos (como acontece no feed do Facebook, por exemplo). O Instagram introduziu algumas alterações similares recentemente, alvo de muita discórdia e até de uma petição com quase 300 mil assinaturas.

Para além disso, a data de publicação de um conteúdo não aparece em destaque em ambiente mobile, o que não ajuda na hora de perceber quando o conteúdo foi filmado ou partilhado. De resto, a maneira como consumimos conteúdo na plataforma não incentiva à reflexão: somos capazes de, no mesmo minuto, vermos um vídeo de alguém a fazer uma partida a um amigo, seguido de uma filmagem feita algures em Mariupol, a que se seguirá um truque de maquilhagem imperdível. Tudo sem perdermos o fôlego ou fazermos muito “scroll” (ou usarmos muitos neurónios).

Se juntarmos a isto o facto de ser, muitas vezes, vista como uma brincadeira para jovens e, por isso, menos escrutinada, é possível perceber por que razão o TikTok, que é mais uma plataforma de conteúdos que uma rede social, pode ser terreno fértil para a desinformação.

Desafios virais, brincadeiras e muita dança

O sucesso do TikTok assenta, sobretudo, na sua capacidade de nos entreter com vídeos rápidos, normalmente divertidos e muito dinâmicos, com alguma música à mistura.

Por isso mesmo, a plataforma é, maioritariamente, conhecida pelas danças virais e quem por lá anda normalmente aposta no tom mais descontraído para passar informação e angariar uns “likes”.

Há muitas coreografias, partidas divertidas entre amigos e alguns tutoriais. O princípio é sempre o mesmo, seja qual for o assunto: passar a mensagem rapidamente e de forma apelativa, para fugir à “ditadura” do dedo em riste.

Quem se destaca em Portugal?

Desengane-se quem acha que o top de tiktokers português é liderado por crianças. No primeiro lugar em destaque da lista da plataforma de análise de trends Insiflow aparece, por exemplo, Rui Carlota. Com mais de sete milhões de seguidores e 90 milhões de “gostos”, Rui Carlota não é adolescente, mas entretém com “reacts” e vídeos divertidos que dispensam grandes traduções.

Talvez seja essa a fórmula de sucesso também de Bruno Almeida, que tem 3,5 milhões de seguidores, mas ultrapassa Rui Carlota nos “likes” em vídeos: já conta com mais de 103 milhões de gostos nas suas publicações. Este top três é completado por Joel Barreira, também com 3,5 milhões de seguidores e muito conteúdo “viral”.

Há outras contas dignas de nota. Entre as primeiras pessoas a viralizar no TikTok no nosso país está, por exemplo, Kapinha. O músico e ator virou influenciador e, à semelhança dos restantes, costuma embarcar nos desafios divertidos que correm a rede, com a ajuda da família. Tem 1,2 milhões de seguidores.

Lucas with Strangers também é conhecido do público português: destaca-se por fazer vídeos onde ajuda estranhos a cumprir sonhos. Tem 1,8 milhões de seguidores e uma só pergunta: “Como é que te posso fazer feliz?”


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