Imagens da visita de "penitência" do Papa Francisco ao Canadá
Francisco está no Canadá para se encontrar com os povos indígenas que sofreram, no passado, abusos em escolas católicas.
Francisco está no Canadá para se encontrar com os povos indígenas que sofreram, no passado, abusos em escolas católicas.
O Papa Francisco está no Canadá para uma visita de "penitência", como o próprio a definiu. O objetivo da viagem de uma semana é reconciliar a Igreja com as comunidades indígenas que sofreram abusos em escolas residenciais.
Em março, representantes dos três grandes grupos de povos indígenas foram ao Vaticano partilhar com o Papa Francisco as feridas que estas comunidades carregam. O Sumo Pontífice decidiu iniciar "um caminho penitencial".
Na viagem de avião para o Canadá, o Papa Francisco aproveitou para cumprimentar a Vaticanista da Renascença, Aura Miguel, que já acompanhou mais de 100 viagens do Santo Padre.
No primeiro dia da visita ao Canadá, Francisco deslocou-se a Maskwacis, na província de Alberta, onde se encontram as reservas das tribos indígenas Métis e Inuit.
Recebido pelos chefes-anciãos das principais comunidades, o Papa dirigiu-se ao cemitério para rezar, em silêncio, pelas vítimas das escolas comunitárias.
Durante a tarde, houve uma cerimónia com as comunidades indígenas. O Papa foi recebido com uma "dança de cura e reconciliação".
“Está connosco, como prometeu”, disse um líder das "Primeiras Nações" no discurso de boas-vindas ao Santo Padre.
A intervenção de Francisco ficou marcada pela emotividade com que o líder da Igreja Católica se dirigiu a estes povos, onde reconheceu que "as consequências globais das políticas ligadas às escolas residenciais foram catastróficas".
Aos povos nativos do Canadá que foram oprimidos no passado, o Papa pede "humildemente perdão pelo mal cometido por tantos cristãos".
No segundo dia da sua visita ao Canadá, dedicado à comunidade católica, o Papa reuniu-se com os membros da comunidade paroquial de Edmonton, a Igreja do Sagrado Coração.
A cerimónia teve lugar no Commonwealth Stadium, em Edmonton, onde Francisco foi recebido com cânticos tradicionais indígenas, como forma de agradecimento pela sua presença.
“Alegra-me ver que nesta paróquia - para onde confluem pessoas das diferentes comunidades das Firts Nations, dos Métis e dos Inuit, juntamente com população não indígena da localidade e diversos irmãos e irmãs imigrantes - tal trabalho já começou. Eis uma casa para todos, aberta e inclusiva como deve ser a Igreja”, sublinhou Francisco no seu discurso.
O Papa lembrou que Deus "sempre ama, liberta e deixa livres", e que as atitudes preconceituosas e discriminatórias não fazem parte da educação cristã.
Para Francisco, o respeito pelo legado de quem nos precedeu, é fundamental. O Santo Pontífice aproveitou também para dedicar as suas palavras aos idosos e aos avós.
Na terça-feira à tarde, o Papa Francisco peregrinou até ao Lago Sant'Ana, em celebração do dia de São Joaquim e Sant'Ana, os avós de Jesus. Para muitos indígenas, mergulhar nas águas do 'Lago de Deus' é um ritual sagrado.
O Papa, acompanhado pelos líderes indígenas, rezou à beira da água do Lago Sant'Ana. No fim da homília da Celebração da Palavra, Francisco relembrou o "quão preciosos" são os cristãos.
Em entrevista à vaticanista da Renascença, Aura Miguel, o chefe índio Tony Alexis disse estar grato pela visita de Francisco, enaltecendo que se trata de "um sinal de respeito pelas nossas tradições, língua e cultura".
Cumprindo a segunda etapa da sua viagem ao Canadá, o Papa chegou à cidade do Québec na quarta-feira. Foi ali, numa das cidades mais antigas do país, que Francisco se encontrou com as autoridades civis e com os representantes das comunidades indígenas.
Durante o discurso, o Papa teceu críticas às "colonizações ideológicas" e à "cultura do cancelamento", e renovou o "pedido de perdão" às populações indígenas.
“É preciso saber olhar – como ensina a sabedoria indígena – para as gerações futuras, e não para as conveniências imediatas, prazos eleitorais ou apoio dos lóbis. É preciso também valorizar os desejos de fraternidade, justiça e paz das jovens gerações”, afirmou.
A dois dias do fim da sua viagem apostólica ao Canadá, o Papa visitou o Santuário Nacional de Sainte Anne de Beaupré, que é considerado o local mais antigo de peregrinação da América do Norte.
Um dos momentos que marcou o discurso de Francisco foi um alerta que o líder proferiu sobre o "cuidado com a tentação da fuga”, porque, “não há nada pior, perante os fracassos da vida, do que fugir para não os enfrentar”.
Na última etapa da visita "penitencial" ao Canadá, na sexta-feira, Francisco dirigiu-se ao encontro da maior comunidade dos Innuit, em Iqaluit, capital de Nunavut.
Na terra de igloos e de esquimós, o Papa encontrou-se em privado com um grupo de alunos sobreviventes das antigas escolas residenciais. Depois da reunião, reforça o pedido de perdão "pelo mal que cometeram não poucos católicos nestas escolas, contribuindo para as políticas de assimilação cultural", e ainda agradeceu aos sobreviventes pela "coragem" das suas partilhas.
De seguida, encontrou-se com jovens e idosos da comunidade indígena inuit, a quem garantiu total empenho no caminho de reconciliação que está a ser feito. Aos mais novos da comunidade, fez um apelo: "Quero dizer-te a ti, irmão e irmã jovem: tu és a resposta, não só porque se te rendes já perdeste, mas porque o futuro está nas tuas mãos", disse o Santo Padre.
A viagem do Papa Francisco ao Canadá terminou na sexta-feira, dia 29 de julho. Ao longo da visita, ouviu os testemunhos das comunidades indígenas que, durante anos, sofreram nas mãos de cristãos e lamentou, em nome da Igreja, os males cometidos no passado.
Os pedidos de perdão de Francisco foram constantes, e o próprio admite que existe um longo caminho a ser percorrido.
Depois de reforçar a importância dos idosos, o Papa termina a sua viagem a alertar os jovens para o seu papel no futuro.
"Pensa na andorinha do Ártico, que não deixa que os ventos contrários, ou as mudanças bruscas da temperatura, a impeçam de ir de uma extremidade à outra da terra; às vezes escolhe rotas que não são diretas, aceita fazer desvios, mas mantém sempre clara a meta", disse.