Foi numa das suas idas ao supermercado, onde “entre um carapau e um frango” faz sessões de esclarecimento, que Jerónimo de Sousa -- o líder operário que começou a abraçar o povo, estilo nunca usado por Cunhal ou Carvalhas, da elite intelectual do partido --, mas foi ali que foi confrontado com o “conforto” financeiro que teria, agora que tem direito à subvenção vitalícia por ter sido deputado da República.
Com as subvenções, tal como com os ordenados de cargos públicos, o PCP mantém a sua política de “nem beneficiado, nem prejudicado”, o que significa que mantêm o salário da sua ocupação original. “O meu salário é o do afinador de máquinas de primeira classe, profissão que mantenho, embora não exerça”, esclarece Jerónimo.
Não é o único que entrega essa espécie de dízimo ao partido: as contas do PCP de 2023, disponíveis no Tribunal de Contas, mostram 818.807,15 euros provenientes de contribuições e candidatos eleitos. As quotas passam os 2,8 milhões de euros (2.842.871,47 euros) -- um valor quase idêntico aos gastos com o pessoal (2.888.231,86 euros).
Estas contas, disse Raimundo, não as sabe de cor. As que sabe são outras: as receitas próprias são cerca de 90% do bolo e é daí que sai o dinheiro para pagar cerca de 300 funcionários, que ganham acima do salário mínimo. Além disso, “uma boa parte da receita do partido” vem da regra de “nem beneficiado, nem prejudicado”, diz Carvalhas. “A questão é não criar a ideia de que vamos fazer disto uma profissão, não há luta para ser deputado, porque vou ganhar melhor.”
Já a subvenção pública anual (no caso do PCP ultrapassa os 800 mil euros) deveria ser menor e o PCP, recorda Raimundo, propôs que fosse reduzida, porque “os partidos têm a obrigação de garantir o seu financiamento.”
No fim da conversa sobre contas, e numa altura em que o Chega criticou a reposição dos salários dos políticos (e afixou no Parlamento várias tarjas), Carlos Carvalhas dirige-se ao partido: “Se o Chega faz o circo que fez, o PCP faz-lhe um desafio: apliquem aos vossos militantes e aos vossos eleitos a regra do PCP de nenhum ser beneficiado nem prejudicado.”