No calendário, que continua a marcar 50 anos do 25 de abril, não há, neste dia, nenhuma data histórica ligada ao Forte de Peniche, apesar de se voltar várias vezes ao homem que dali fugiu com a ajuda do guarda Jorge Alves, e que passado um ano seria líder do PCP.
O que teriam feito se lá estivessem, que mensagem dariam eles a Cunhal? Que a hora seja curta, é a ideia que resume as respostas dos três homens. “Vamos despachar isto, para ver se te pões daqui para fora rapidamente, que nós estamos lá fora à tua espera”, diz Raimundo, mais assertivo. E recorda que quantos menos estivessem envolvidos, melhor seria, sempre a pensar no sucesso da missão.
O sucesso foi garantido, de tal forma que a evasão ficou para a história, ao lado de outras fugas: a de António Dias Lourenço, outro histórico do PCP, que, em 1954, em pleno dezembro, se atirou ao mar e chegou a Peniche a nadar. Ou a fuga de Caxias, em 1961, quando um carro do próprio Salazar foi usado pelos evadidos.
Mas foi a fuga de Cunhal que fez uma “fenda na muralha do regime fascista”, como disse Jerónimo em 2020, fragilizando o regime de Salazar, a ponto de “criar condições” para a Revolução de 1974.
Talvez por tudo isso, Carlos Carvalhas, dos três o mais próximo de Cunhal, poucas vezes perdeu o semblante carregado ao longo da visita. “Isto não são só pedras”, disse, apontando para a muralha e lembrando que muitos sofreram ali às mãos da PIDE (e da PVDE e da DGS) nas celas disciplinares — o Segredo, como lhe chamavam os presos. E é por isso que seis décadas, confessa, ainda não chegam para se sentir confortável naquele lugar.
Na segunda-feira, 9 de dezembro, a Renascença publica a entrevista exclusiva feita ao atual secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, em conjunto com os antigos líderes Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa, nas vésperas do XXII Congresso do Partido Comunista Português.
Ficha técnica: Cristina Nascimento e Susana Madureira Martins (entrevista), Ana Kotowicz (textos), Ricardo Fortunato, Beatriz Pereira e Catarina Santos (imagem e edição), José Ferreira, Diogo Rosa e José Loureiro (som), Diogo Casinha (edição de som), Tomás Anjinho Chagas (rádio e textos), Pedro Leal, Arsénio Reis e Maria João Cunha (coordenação)