Governo "tem cometido erros? Claro que sim" e o "PS tem tido altos e baixos"

Fundador do PS, Alberto Arons de Carvalho diz em entrevista à Renascença que não está "desiludido" com o percurso de um partido que tem tido "altos e baixos". Assume que têm sido cometidos "erros" pela atual maioria absoluta, mas a matriz mantêm-se e "resta o fundamental", ou seja, "preocupações com a democracia e com a liberdade".

19 abr, 2023 - 16:46 • Carla Fino , Susana Madureira Martins



Alberto Arons de Carvalho sobre os 50 anos do PS
OuvirPausa

Alberto Arons de Carvalho sobre os 50 anos do PS

Alberto Arons de Carvalho é o mais novo dos fundadores de um PS que esta quarta-feira comemora 50 anos de existência. O histórico socialista - que tinha apenas 23 anos na data da criação do partido - diz-se convicto que o mandato do atual Governo "continuará e chegará ao fim até às eleições legislativas que estão previstas".

Sobre o Presidente da República, Arons de Carvalho considera que "é evidente que participa no espaço público com uma maior intensidade do que os seus antecessores", mas que Marcelo Rebelo de Sousa "tem assegurado a estabilidade da democracia portuguesa".

Foi um dos fundadores do PS. O que é que resta desse partido fundado em 1973?

Penso que resta muito. Ou seja, nós fundámos um partido sem termos, na altura, consciência da importância que o Partido Socialista teria não só no final do regime anterior, como também na construção da democracia em Portugal. E o Partido Socialista teve de facto um papel muito importante ao longo destes 50 anos e permanece.

Neste momento é o principal partido. E tem sido um importante partido para uma grande parte dos portugueses. E, portanto, creio que resta o fundamental. Ou seja, preocupações com a democracia e com a liberdade. Programas de governo baseados na democracia política, conjugados com preocupações sociais, ambientais e do tipo que têm sido a matriz do partido ao longo dos anos.

Está desiludido com o percurso que o partido tem desenvolvido nos últimos anos?

Não estou desiludido. O PS tem tido altos e baixos. Pode apresentar resultados muitas vezes positivos, outras vezes menos menos positivos. Mas é uma evolução normal em democracia. Não creio que nos possamos arrepender daquilo que fizemos.

O atual Governo está a enfrentar uma situação extremamente delicada, proveniente de problemas na economia mundial, que tem origem na Covid, na invasão da Ucrânia. São dificuldades muito grandes, mas que o Governo tem procurado resolver. Tem cometido erros? Claro que sim. Todos os governos têm méritos e cometem também, ao mesmo tempo, erros. O atual Governo não é nessa matéria diferente dos outros em geral.


Manuel Alegre deixou em entrevista na Renascença um alerta sobre o deslumbre da maioria absoluta e aconselha os camaradas da maioria a manter o espírito crítico. Falta esse espírito crítico no partido?

Não penso. O PS é um partido internamente muito democrático, com uma enorme participação dos militantes. Há imensas secções pelo país, há muito espaço de diálogo, de debate. As pessoas podem participar podem exprimir as suas opiniões internamente. Portanto, é uma riqueza extremamente relevante para a vida e para o futuro do partido.

É claro que quando se está no Governo, numa situação complexa como a atual, naturalmente que há, aparentemente, um maior descontentamento nacional e maiores dificuldades para a governação. Mas eu penso que não é por isso que o Partido Socialista deixa de estar fiel aos seus compromissos e à sua história.

O PS entra agora nos 50 anos, mas um bocadinho entretido com a discussão da guerra da sucessão de António Costa. Parece-lhe que é um momento em que se devia já estar a discutir isto?

Não, não creio. Acho que é extremamente prematuro esse tipo de debate. Estamos no início de um mandato de quatro anos de um Governo com maioria absoluta. Não creio que se justifique qualquer forma de interromper esse percurso.

Esse cenário de substituição de António Costa, que um dia obviamente se porá, é extremamente prematuro e só tem como como consequência distrair as pessoas do essencial, que é melhorar a governação, responder aos problemas complexos da economia e da sociedade portuguesa. E isso é que é fundamental.


Há aqui um fantasma da dissolução do Parlamento a pairar. De alguma forma, acaba por atrapalhar a governação socialista?

É evidente que o contexto geral não é nada fácil. Há problemas relacionados com a economia provenientes com a Covid e a guerra na Ucrânia e isso é evidente que abre caminho para um maior descontentamento que, aliás, a oposição tem habilmente tentado aproveitar, mas eu creio que o caminho não se faz olhando para, digamos, para essas matérias, faz-se tentando resolver os problemas do dia a dia e da economia portuguesas em movimento, a economia portuguesa. E pensando que o Governo tem mais alguns anos para tentar recuperar o país desta crise económica internacional.

Podemos incluir aí também o Presidente da República como um foco de instabilidade política?

Não creio. O Presidente da República é evidente que participa no espaço público com uma maior intensidade do que os seus antecessores, o que por vezes é positivo, outras vezes pode parecer negativo, mas eu creio que tem assegurado a estabilidade da democracia portuguesa e confio que o mandato do atual Governo continuará e chegará ao fim até às eleições legislativas que estão previstas.


Artigos Relacionados