"Mais de 70% do país está abandonado, há uma baixa densidade populacional, o território está a ser ocupado por estrangeiros que, felizmente, vão ocupando alguma parte do território, sobretudo estrangeiros reformados", explica António Campos, que conclui:" Não há coesão territorial nenhuma".
É ainda dado outro exemplo do que António Campos considera ser a falta de ação do partido e do Governo: "Discute-se o problema da alimentação, mas nós somos dependentes do exterior mais de 70% e o que se discute é o IVA zero, não se discute os recursos naturais disponíveis e a sua utilização", lamenta o socialista.
Perante um PS e um Governo constantemente encharcados em casos e polémicas, António Campos também não vê um Presidente da República a atuar da melhor maneira. Marcelo "é o responsável constitucional responsável pelo funcioanamento das instituições, mas nunca o ouvi falar disso", despacha o socialista.
Mesmo tendo em conta que o Presidente da República, por diversas vezes, tem vincado que não abdica do poder de dissolver o Parlamento, António Campos considera que "a degradação é total, mas o silêncio do Presidente é total".
Para o antigo dirigente e fundador do PS, Marcelo e Costa estão no mesmíssimo patamar: "O Presidente não tem muita autoridade para poder penalizar um Governo que também não está a defender os direitos as liberdades e garantias constitucionais. Portanto, são os dois um pouco iguais".
Por tudo isto, António Campos recusa-se a estar presente no jantar para o qual foi convidado pelo estado-maior do PS e que está marcado para esta quarta-feira no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa e que assinala a fundação do partido a 19 de abril de 1973 na Alemanha.
Na Alemanha? Campos salienta que os alicerces do partido são muito anteriores. O PS "foi criado em minha casa. Tive uma batalha entre 1964 até 1973 muito grande para se transformar em partido".
Um partido "negado em Lisboa pela Acção Socialista" e depois "numa reunião clandestina" em casa de Campos foi revogada "a decisão dos membros da Acção Socialista de Lisboa, criando o PS que era fundamental para o Mário Soares, que estava no exílio e precisava de apoio internacional e, principalmente, dentro da Internacional Socialista".
Precisamente, Mário Soares será homenageado esta quarta-feira de manhã numa cerimónia no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde está sepultado o fundador e líder histórico do PS, partido que chega agora ao meio século de existência, detentor de uma maioria absoluta, mas envolvido em diversos "casos e casinhos", como lhes tem chamado António Costa.