​Socialistas afastam cenário "ridículo" de eleições, mas há preocupação com perda de "equilíbrios" dentro do Governo

No PS acredita-se que a saída do Governo não é a morte política de Pedro Nuno Santos e, que depois de uns meses em hibernação, irá voltar a "fazer política", ou seja, o eterno jovem turco vai ficar à solta para fazer trabalho de campo nas distritais e no Parlamento. O problema que alguns dirigentes veem com esta demissão é que dentro do Governo "há um conjunto de equilíbrios" que se perde e que o peso político do ex-ministro não é "transmissível" ao sucessor. Demissão de Alexandra Reis não foi coordenada com Pedro Nuno e a declaração de Fernando Medina a garantir que não sabia da indemnização, também não.

29 dez, 2022 - 20:21 • Susana Madureira Martins



 

Está ferido, mas não é de morte. Pedro Nuno Santos vai voltar ao Parlamento e no PS há a convicção de que a demissão do Governo, onde tinha a pasta das Infraestruturas, "não significa uma morte política", apenas "vai estar uns tempos afastado", acredita um dirigente nacional.

A saída de Pedro Nuno do executivo é dada por vários socialistas como "inevitável", que a "pergunta que se fazia a seguir era se era suficiente" a demissão da secretária de Estado do Tesouro e que o ministro das Infraestruturas estava especialmente exposto. "Manifestamente não tinha condições" para continuar e, "do ponto de vista ético, assumiu as responsabilidades", reconhece o mesmo dirigente.

A fatalidade da saída é uma coisa. Mas há também a leitura de que esta saída de Pedro Nuno Santos "não é uma coisa fantástica" para o próprio Governo. "Há um conjunto de equilíbrios" dentro do executivo de António Costa que, de alguma maneira, se perdem. Para este dirigente socialista contactado pela Renascença, Pedro Nuno Santos "tem um peso político pessoal que não é transmissível ao próximo ministro".

A saída sendo dada como "inevitável" é também resultado de "uma coisa menor". Pelo menos em comparação com "a dissonância do aeroporto, que foi pior". E a mesma fonte socialista nota que "Hugo Mendes [o secretário de Estado das Infraestruturas que assinou o despacho revogado do novo aeroporto de Lisboa] estava nas duas situações".

Entre os “pedronunistas” a convicção é que Pedro Nuno Santos sai "aliviado, estava farto" e vai estar "calmo durante uns meses". A previsão depois é que comece a "fazer política, para a qual tem tido pouco tempo". Ou seja, o regresso do jovem turco de novo à solta pelo Parlamento e a andar no para cá e para lá entre as distritais do PS.

Entre os mais próximos do ex-ministro a convicção é que há "muito trabalho para fazer para ajudar o PS a governar bem". Agora e no futuro, porque "não temos interesse nenhum em chegara 2026 com o PS no chão", resume um “pedronunista”.

E as pretensões de Pedro Nuno para a liderança do PS mantêm-se intactas, segundo um destacado dirigente do partido. O ex-ministro terá o futuro que quer. Tem é "de voltar à casa de partida, desta vez já com alguma pontuação".


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Medina é o próximo alvo das oposições... e “pedronunistas” também não poupam

A previsão é que depois do ministro das Infraestruturas a oposição caia em cima de Fernando Medina. Nesta crise política da TAP e de Alexandra Reis, o ministro das Finanças escapou pelos pingos da chuva. Um “pedronunista” despacha que "Medina não pode cair, nem o Presidente da República quer fazer isso, vão segurá-lo por todos os lados".

O modo como Pedro Nuno Santos foi ficando isolado nesta crise política é, aliás, notada. O ex-ministro ficou sobretudo exposto a partir do momento em que Fernando Medina fez saber publicamente que desconhecia a indemnização da ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis.

A Renascença sabe que esta resposta de Medina à RTP, a garantir que não sabia da indemnização de Alexandra Reis, não foi coordenada com Pedro Nuno Santos e a demissão da secretária de Estado do Tesouro, também não. O ministro das Finanças teve aqui o beneplácito de Marcelo Rebelo de Sousa - que disse acreditar "quando os ministros dizem que não sabiam" - e, horas depois, o ministro das Infraestruturas demitia-se.

Entre os “pedronunistas” há um azedume que não se consegue esconder e faz prever um qualquer ajuste de contas a prazo. Para já, deseja-se a quem fica no Governo que "gozem bem aquilo, estão com o brinquedo só para eles".

A substituição de Pedro Nuno no Governo e a posse do novo elenco das Infraestruturas só deve acontecer depois do regresso do Presidente da República do Brasil, no início de janeiro. E admite-se que possa haver mexidas pontuais na orgânica do Governo, com a transição da Habitação para outro ministério, por exemplo.


Novas eleições legislativas é cenário "ridículo" para o PS

Ao longo desta quinta-feira, foi pairando o fantasma de novas eleições legislativas à boleia de mais uma crise política. O Chega considera que o Presidente da República "tem de ponderar se está ou não em causa o normal funcionamento das instituições", lançando a bisca para a dissolução do Parlamento.

Já o PSD vê a apresentação de uma moção de confiança do Governo como alternativa à moção de censura da Iniciativa Liberal, mas com Paulo Rangel a deixar claro que o partido “está sempre preparado para ser alternativa”.

A somar-se a isto, o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes veio defender que António Costa "até para defesa dele próprio, deve tomar uma atitude. Tem direito a continuar a governar, mas deve apresentar a demissão deste Governo. E o Presidente da República deve pedir-lhe para formar Governo, novamente".

O PS segura-se na maioria absoluta que tem no Parlamento e afasta o cenário por completo. À Renascença, um destacado dirigente socialista corta a eito e considera que "seria ridículo termos eleições. A legitimidade de António Costa não tem comparação com a que tinha (ou melhor, não tinha) Santana Lopes".

Socialistas reúnem Comissão Nacional em janeiro

Depois de um ano frenético com dez saídas do Governo, crises políticas, "casos e casinhos" como lhes tem chamado António Costa, o PS arranca o mês de janeiro com uma reunião da Comissão Nacional, o órgão de direção nacional máximo entre congressos.

A Renascença sabe que a convocatória da Comissão Nacional estará prestes a sair, com o encontro a ser marcado para o dia 14, em Coimbra, fazendo parte do calendário ordinário do PS.

Com um ponto de discussão essencialmente "estatutário", esta será, contudo, a primeira reunião do estado maior socialista depois de uma crise política que despachou um dos principais protagonistas do partido.

Pedro Nuno Santos não costuma aparecer nestas reuniões. Curiosamente, compareceu na última Comissão Nacional, que se realizou em julho, na Gafanha da Nazaré, no distrito de Aveiro, quando ainda estava fresca a polémica à volta do despacho revogado do novo aeroporto de Lisboa.


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