"Emoção” e “dias atarefados”. Como se preparam as eleições internas do PSD?

A Renascença esteve em várias sedes do PSD no Norte e no Sul do país. As estruturas locais preparam-se para receber os militantes que escolhem entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. As diretas no PSD acontecem este sábado.

28 mai, 2022 - 08:32 • Tomás Anjinho Chagas



Imagem de Sá Carneiro na sala principal da Sede do PSD em Évora. Foto: Tomás Anjinho Chagas/RR
Imagem de Sá Carneiro na sala principal da Sede do PSD em Évora. Foto: Tomás Anjinho Chagas/RR

Um muro preto envolve a moradia que serve de sede distrital do PSD no Porto. A bandeira laranja e a inscrição na fachada denunciam o edifício.

Ao entrar, é evidente que o dia não é igual aos outros. Há papéis dentro de sacos e as divisões estão desarrumadas. Preparam-se as diretas. Os militantes são chamados a colocar a cruz em Luís Montenegro ou em Jorge Moreira da Silva.

“Aqui estão as urnas, que vêm da sede nacional e que serão agora separadas”, indica à Renascença Pedro Ferreira, que, além de militante, é funcionário na distrital do Porto há 20 anos.


Sede distrital do PSD no Porto, a que tem maior número de militantes aptos para votar. Foto: Tomás Anjinho Chagas/RR
Sede distrital do PSD no Porto, a que tem maior número de militantes aptos para votar. Foto: Tomás Anjinho Chagas/RR

No interior da moradia, uma moldura ostenta um retrato de Francisco Sá Carneiro e os sofás são laranjas.

Uma visita guiada mostra os espaços onde vão estar montadas as mesas de voto. Esta é a maior distrital do país em número de militantes com as quotas em dia. Há mais de 7.500 pessoas que podem vir votar.

O ato eleitoral do PSD funciona de forma parecida às eleições que acontecem no país (legislativas ou autárquicas), ou seja, o processo é meticuloso e envolto em burocracias. A experiência de Pedro Ferreira ajuda a desatar o nó.

“Desde que existem eleições diretas no partido (2007) colaborei em todas. Quando se está habituado a fazer é uma coisa relativamente simples, não tem grandes segredos”, relata à Renascença este funcionário social-democrata.

Enquanto serpenteia os corredores da moradia, Pedro Ferreira vai discriminando todos os passos implícitos em executar eleições diretas no PSD. Nos cantos estão urnas por desdobrar, que no sábado vão servir de depósito dos boletins de voto preenchidos.


Sede do PSD no Porto
Sede do PSD no Porto

Diversos militantes, em todo o país, falam num partido desgastado e adormecido, fruto das sucessivas eleições internas. No entanto, Pedro Ferreira espera que isso não se reflita na afluência. “Estou convencido que as eleições terão a afluência normal”, afirma.

É à distrital do Porto, um dos bastiões social-democratas, que pertencem algumas das maiores figuras do partido. Nas últimas diretas, em dezembro de 2021, os dois candidatos votaram nesta sede. “Paulo Rangel e Rui Rio votaram na mesma mesa”, lembra Pedro Ferreira.

As tarefas dividem-se entre imprimir boletins de voto, montar urnas, e remodelar as divisões para torná-las em secções de voto. No Porto vão estar montadas três mesas. É fim de semana para a maioria da população, não para Pedro Ferreira.

“Eu costumo dizer que, no partido, o fim de semana é a meio da semana. Para aí à terça ou à quarta”, suspira este funcionário da sede do Porto, enquanto se ri.

Mas isso não é um mal em si mesmo. Pedro Ferreira fala em fins de semana de “alguma emoção e de muita aventura”, entre a satisfação de ver o ato eleitoral a decorrer e a tensão de assegurar que ele corre bem.


Sede do PSD em Évora      Créditos: Tomás Anjinho Chagas/RR
Sede do PSD em Évora Créditos: Tomás Anjinho Chagas/RR

Évora. “Dias atarefados” e a preocupação de regularizar as quotas

Dando à chave, a Renascença faz-se à estrada e aponta para Évora. As duas sedes estão separadas por 410 quilómetros.

A sede alentejana está embrulhada em azulejos verdes, mas as setas do PSD confirmam que se chegou ao edifício certo.

Stella Bengla abre a porta à Renascença. É funcionária do PSD e assessora da deputada recém-eleita Sónia Ramos, que devolveu a Évora representação social-democrata no Parlamento.


Fotos: Tomás Anjnho Chagas/RR
Fotos: Tomás Anjnho Chagas/RR
Fotos: Tomás Anjnho Chagas/RR
Fotos: Tomás Anjnho Chagas/RR


Várias urnas dobradas estão pousadas numa mesa que tem um quadro de Francisco Sá Carneiro encostada à parede. Na sala onde vai estar montada a mesa de voto, estão também por montar os biombos que asseguram o secretismo do voto.

Num gabinete nesta casa antiga, Stella Bengla admite dias “bastante atarefados” e revela que tem havido uma corrida dos militantes para regularizar as quotas, para poderem escolher quem querem ver como próximo líder do PSD.

Esta funcionária do partido explica que os filiados estão “muito entusiasmados” e mobilizados para esta eleição que “significa uma nova era”. As “pessoas sentem-se esperançosas”, acrescenta.


Retrato de Sá Carneiro com urnas por desobrar e um biombo que garante o secretismo do voto     Créditos: Tomás Anjinho Chagas/RR
Retrato de Sá Carneiro com urnas por desobrar e um biombo que garante o secretismo do voto Créditos: Tomás Anjinho Chagas/RR

Espera-se uma abstenção baixa, e uma participação maior do que a de dezembro, “os números dizem que sim”, adianta Stellla Bengla.

No distrito de Évora há 458 militantes aptos para votar, no concelho são pouco mais de 150. Mas Stella Bengla explica que nem isso torna o processo mais fácil.

“O ato é um processo burocrático, bastante rigoroso, cumpre-se a legislação à risca. Temos os processos bastante morosos. Há muitas burocracias, é muito exigente”, assegura Stella Bengla.

Este sábado, 44.335 militantes do PSD, por todo o país, podem votar em quem querem ver como próximo líder do PSD. Luís Montenegro ou Jorge Moreira da Silva, um deles vai comandar os destinos do maior partido da oposição em Portugal.


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