“Uma das irmãs dominicanas [que vivia no bairro] virou-se para mim e disse: ‘nós vamos dar-te o ordenado do teu marido durante um ano e tu vais-te governar’. No final desse ano, acabou e eu já tinha condições”, conta à Renascença, enquanto o marido, que nunca mais recuperou o emprego, vai apanhando a roupa do estendal.
Nenhum deles esquece o “muito” que estas freiras fizeram pelos seus filhos e também pelas mulheres do bairro, numa altura em que a violência doméstica se via nas pequenas coisas, como não terem “ordem para ir ao cinema ou ao café”.
O tempo foi passando, as dominicanas saíram, mas chegaram os missionários da Consolata, que ainda continuam pelo bairro. Também aqui as mulheres ganharam um lugar especial: há precisamente 20 anos criaram a Comunidade de Mulheres do Zambujal (Comuza). Ali, organizam aulas de costura, vendas de garagem com tudo o que é bordado e até já foram a Madrid. Tudo acontece no Centro Consolação e Vida, gerido pela Consolata e que também acolhe por estes dias um lanche de Natal, uma das iniciativas “mais importantes”.
Ana Paula traz o próprio exemplo para explicar que há famílias “que não são fáceis” e que precisam de ajuda reforçada na época natalícia.
“Na casa dos meus pais, onde viviam os meus tios, um deles era bastante alcoólico. Tinha bastantes problemas e não havia nenhuma festa que não houvesse zaragata”, recorda, apesar de o Natal ser a sua época preferida “desde pequenina”.
Logo ao entrar na sala, ao lado da cozinha onde conversamos, o chão frio está coberto por um enorme presépio, com mais de 50 figuras, todas elas rodeadas pelo musgo que Ana Paula recolheu com o filho mais novo, na serra de Monsanto. Ao centro, há um comboio que nunca pára, nunca desanima. Tal como Ana Paula, que nos responde assim quando lhe perguntamos se é feliz no Zambujal: “A tristeza não paga dívidas, pois não?”