Fim em direto
Durante a manhã, António Campos assiste na primeira fila a um acontecimento importante: vê Otelo a sair do COPCON, chamado a Belém por Costa Gomes. “Assisti à saída do Otelo, à desistência do Otelo, e fui ter com o Mário Soares, que, entretanto, já não tinha ido para o Porto”, conta.
Mais tarde, os dois socialistas seguem até à sede do PS, na Rua da Emenda. À porta, encontram Edmundo Pedro “com uma metralhadora na mão”.
Helena Roseta está em casa, em Lisboa, agarrada à televisão. Basílio Horta está em Celorico de Basto e faz a mesma coisa.
Na RTP, pelas 18h00, o capitão Duran Clemente, da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), apela à mobilização popular junto dos quartéis. Mas, de repente, a emissão pára.
“Começa a dar uma marcha qualquer, e quando a emissão retoma aparece um filme do Danny Kaye. E nós percebemos que o poder tinha mudado”, acrescenta Roseta. “Aí começa toda a gente a telefonar uns para os outros, numa loucura total.”
Basílio Horta sabe do contragolpe também pela televisão. “Vim imediatamente para Lisboa, para o partido.” (De acordo com o registo de presenças do Parlamento, o centrista esteve presente na sessão da assembleia de dia 25 de novembro. A sua memória, todavia, é outra.)
O telefone toca na sede do PCP no Porto. Alguém dá nota a Agostinho Lopes de que o “incidente” foi resolvido e as "intenções das forças de direita e revanchistas" não vão "avançar”.
Pelas 19h15, os militares que ocupam a base aérea de Monsanto rendem-se. Em Monte Real e no Montijo, só já de noite.
Perto das 21h00, Costa Gomes, com Otelo ao lado, faz uma comunicação ao país, assegurando que o MFA está coeso, apesar das divergências de opiniões entre alguns membros. O Presidente da República denuncia o que chama de "ofensiva de boatos, que está a conduzir o país a um ambiente doentio de agitação e ansiedade", baseados na "projeção da ideia de que há antagonismos graves no seio das Forças Armadas". É imposto o estado de sítio e recolher obrigatório na região de Lisboa, durante oito dias.
Fernando Rosas ainda está na redação do “Luta Popular”, há um jornal para pôr “cá fora”. Apesar das circunstâncias, consegue. E depois fica “à varanda, a ver passar os tanques”.
As movimentações militares apenas terminam no dia 26. Três militares morrem, num confronto entre o Regimento de Comandos da Amadora e uma unidade da Regimento de Polícia Militar. É o fim do Período Revolucionário Em Curso.