Inês de Carvalho, outra das médicas paliativistas da unidade Maia/Valongo, lembra que “a morte é um dos momentos mais importantes da vida” e precisa de ser vivida com dignidade.
“Se as pessoas puderem ficar em casa, elas preferem isso ao ambiente hospitalar. E, felizmente, já vai havendo cada vez mais equipas que possibilitam essa situação”, indica.
Só que não chega. É preciso criar mais equipas, formar profissionais especializados. Por isso, mais cedo, ou mais tarde, Manuel Barbosa espera que seja criada “a especialidade médica em cuidados paliativos” que reconheça que “estes são cuidados diferenciados e extremamente complexos que precisam de grande especialização”.
E, quanto mais depressa, mais tempo se ganha. Em 2050, metade da população portuguesa deverá ter mais de 60 anos. Grande parte dos nascidos antes de 1990 serão doentes paliativos.
Cuidados paliativos não é só para quem está a morrer
Aliviar o sofrimento não é o mesmo que preparar a morte. “Nós damos muitas altas”, lembra Manuel Barbosa. “Na maior parte dos casos, são doentes não oncológicos."
Para este médico, é decisivo desmontar a ideia de que cuidados paliativos são a última reta a caminho do fim: “Cuidados paliativos não é só para quem está a morrer nem só para doentes oncológicos”.
Manuel Barbosa faz, por isso, questão de apresentar a designação tecnicamente correta. Cuidados paliativos são para situações de “doença grave, ameaçadora de vida e para situações em que haja descontrolo sintomático que provoca grande sofrimento”.
Contudo, em muitos casos, a morte acontece. Quando assim é, há que continuar a cuidar de quem cuidou.
“E depois do adeus? Não é, necessariamente, ficarmos sós”, garante.
Sempre que alguém parte, a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos dos centros de saúde Maia/Valongo faz a triagem do luto para perceber se algum familiar necessita de ajuda, em caso de desenvolver luto patológico.
Ninguém fica sozinho. “E muito do que fica é gratidão”. Das famílias e dos profissionais de saúde.