O projeto, intitulado “Plantação – Prosperidade e Pesadelo”, procura instalar uma representação de uma plantação com 400 canas-de-açúcar, em alumínio preto. “Distribuídas pelo terreno disponibilizado, que tem forma triangular, o número de canas representa simbolicamente o número de anos de escravatura transcontinental entre África, Brasil e Portugal”, pode ler-se no plano do projeto.
À Renascença, Rui Fernandes reconhece a importância da criação de um monumento que explique “o que aconteceu no passado, porque serviria para promover um maior conhecimento sobre a história”. “Da minha perspetiva como guia-intérprete, eu sei que se existisse um monumento imponente, haveria de obrigar os meus colegas a observarem o monumento, e essencialmente descrevê-lo para os seus visitantes, contextualizá-lo de forma a estarem preparados para quaisquer questões que poderiam eventualmente surgir”, afirma.
Sem data para o memorial à vista, a única estrutura dedicada à memória da escravatura em Portugal, indica o guia, localiza-se em Lagos, um dos locais de onde chegavam os escravos africanos, que eram depois canalizados para o resto da Europa.
“Acho que deveria haver mais educação promovida sobre o tema, não só nas escolas mas também nos vários museus que nós temos em Portugal. Alguns poderiam ter peças com alguma ligação com África ou com o comércio de escravos”, argumenta Rui. “Nós falamos muito sobre a escravidão, mas não promovemos a educação sobre a escravidão. São coisas totalmente diferentes”.
Uma “celebração da memória esquecida”
Com destino ao Terreiro do Paço (ou Praça do Comércio), sítio onde os escravos desembarcavam em Lisboa, no grupo não se nota cansaço, apenas interesse e admiração por aquilo que se escuta.
Uma das atentas é Stacy DeLano, a viver em Portugal há seis anos. Para ela, nada aqui é novidade, pois é a sétima vez que faz esta visita guiada. “É uma parte da história portuguesa que é importante conhecer e que muitas pessoas não exploram”, afirma à Renascença. “Vinda dos Estados Unidos, também com os nossos problemas do tráfico de escravos, penso que é pertinente aquilo que estou a tentar aprender. É muita informação, mas é esclarecedor.”
Vindo das ruas calmas e ensombreadas de Alfama, o grupo chega ao grande terreiro, onde o sol queima e as multidões de turistas se misturam. Sobe a rua Augusta até à Praça Dom Pedro IV e daí à Igreja de São Domingos.
Duniya, vinda de Londres, está acompanhada do marido e do filho. “É uma história inacreditável. É muita informação, mas esta tour permite contextualizar as diferentes razões da escravatura, como começou…”, conta à Renascença. “Pensei que vinha para aprender sobre a escravatura em Portugal, mas na verdade aprendi sobre a escravatura em geral. É uma grande, grande história e estou surpreendida por não saber mais”.