Respostas estão "demasiado estereotipadas"
O consumo e tráfico de droga não se faz apenas em torno da sala de consumo vigiado da Pasteleira, por onde Sofia e Paulo mais circulam. Está de volta, e em força, à zona da Sé, em pleno centro histórico do Porto. Em duas décadas, a repressão policial, que foi desmantelando bairros que funcionavam como mercados de droga, não acabou com o problema. O tráfico simplesmente mudou de lugar. Com ele, também os consumidores.
Nas vésperas da entrada em vigor da nova lei da droga, que descriminaliza a posse de droga para 10 dias de consumo, a Renascença foi ao terreno perceber como é que toxicodependentes, assistentes e quem circula no Porto lida com a constante migração da droga.
Falar de toxicodependência é, desde logo, falar de saúde mental. "É a base de todo o problema", refere Cláudia Ribeiro, fundadora da Trata-me Por Tu, uma associação de voluntários que faz intervenção junto da população toxicodependente nos bairros problemáticos do Porto. "A verdade é que há muito poucas respostas de saúde mental na comunidade. Era necessário um acompanhamento diário que não existe, sobretudo junto desta franja da população", acrescenta.
Cláudia lamenta que "as respostas a este problema sejam demasiado estereotipadas”, desenhadas como se toxicodependentes e população em situação de sem-abrigo fossem um corpo uniforme. Diz que “são pensadas para os utentes perfeitos... e as pessoas não são perfeitas".
Outro dos entraves é o preconceito, a falta de confiança na recuperação de quem vive dependente da droga. Da experiência de vários anos no terreno, Cláudia Ribeiro firmou a ideia de que "a sociedade não está preparada para lidar com este problema". "Normalmente, as pessoas dizem 'eles não querem nada, não querem ajuda de ninguém'. Não é verdade. Eles cumprem, mas precisam de ser motivados".
Caso contrário, "vão desistir deles próprios, vão achar que não são dignos de receber qualquer tipo de ajuda".