Já o inspector-geral da ASAE, Luis Lourenço, reconhece que seria "humanamente impossível" fiscalizar todos os alojamentos locais do Porto. "Não conseguimos chegar a todos os operadores económicos", lamenta. No ano passado, a ASAE visitou "cerca de 70 operadores económicos sobre esta matéria", no concelho do Porto.
A Renascença questionou também a Câmara Municipal do Porto sobre o acompanhamento que é feito destes espaços. De acordo com um "powerpoint" remetido pela autarquia, os seus fiscais fizeram, no último ano, perto de 2500 vistorias.
É só a ponta do iceberg: De acordo com site do Registo Nacional de Turismo, em todo o concelho do Porto estão registados mais de 10 mil Alojamentos Locais (onde se inserem os hostels).
"Já fiz muitas visitas domiciliárias a hostels onde há três beliches duplos por quarto e 500 euros por cada colchão. É desumano", sublinha a diretora do centro São Cirilo.
Desumano e com episódios recentes de violência, como aquele que se registou no Bonfim, quando um grupo de indivíduos invadiu uma residência de imigrantes e os agrediu. Duas das vítimas tiveram de receber tratamento hospitalar. Mariana Rozeira não absorve a tese de que os ataques se explicam pela sensação de insegurança nalgumas zonas do Porto. "Os dados estatísticos que tenho é que a violência diminuiu, as queixas relativamente a migrantes são muito pontuais", sustenta. O que tem subido, diz a responsável, é o discurso xenófobo e racista.
O mesmo indicam os mais recentes dados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), segundo o qual Portugal registou em 2023 um agravamento da ameaça ligada aos extremismos políticos, sobretudo de extrema-direita, e os crimes de ódio continuam a crescer. O relatório, já entregue no Parlamento, revela também um aumento do tráfico de vítimas para exploração laboral, refletindo-se num aumento de 150% dos crimes de tráfico de pessoas e de 300% no auxílio à imigração ilegal. De acordo com os mesmos dados, a criminalidade a grave subiu 5,6%.
"Eu aceito que uma pessoa que vive na cidade do Porto veja o número crescente de migrantes, mês após mês, e, de facto, isto é uma realidade, sem dúvida nenhuma", admite a responsável, que diz compreender que "isso possa dar uma perceção de insegurança por haver mais pessoas em situação de sem-abrigo". Mas acrescenta: "Se isso depois se traduz em crimes concretos [praticados por migrantes], acho que não."