O outro lado da narrativa
A “narrativa” de Costa quanto ao lítio está agora nas mãos de Pedro Nuno Santos. De fundo, nada mudou.
No programa eleitoral do PS, o lítio aparece como essencial para a transição energética e desenvolvimento económico do país. No debate televisivo com Inês Sousa Real, o novo secretário-geral do PS defendeu abertamente a importância da exploração das reservas nacionais – a maior a nível europeu, oitava a nível mundial.
Faz sentido que o PS veja no lítio uma possível “galinha dos ovos de ouro” para o futuro económico do país, mas depois, em campanha, não visite este local onde a exploração poderá prosseguir? Para Fátima Fernandes, presidente da autarquia, esta questão não se põe. Não há “nada” para visitar, nenhuma mina para “abrir”.
A socialista comanda os destinos de Montalegre, mas não partilha da visão nacional do PS. À Renascença, diz que não é “taxativamente contra as minas”, pois tal seria “irresponsável e de uma imaturidade muito grande”.
Mas, “a bem do território, a bem das pessoas, nós não queremos a exploração nos moldes em que ela se perspetiva, porque os benefícios não superam os problemas que vai trazer”, afirma.
Em novembro do ano passado, após a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ter dado luz verde de “forma condicionada” à exploração da mina do Romano, a câmara de Montalegre avançou com uma providência cautelar. A Lusorecursos já disse que tenciona iniciar a exploração mineira em 2027. Ou seja, durante a próxima legislatura.
Na opinião da autarca, Pedro Nuno Santos e outros líderes políticos não visitam o seu território por uma questão logística, não porque tentem evitar algum embaraço.
“Os líderes partidários não podem passar todos pelas localidades. Temos 308 concelhos, em período eleitoral seria humanamente impossível visitarem todos os concelhos.”
Tendo em conta o ponto de situação do lítio em Montalegre, a visita de políticos em época eleitoral seria promover “ruído”, afirma mesmo. “Muito sinceramente, penso que seria isso que eles viriam para aqui fazer. Quando há questões [nacionais] muito mais prementes, não me parece sequer que fosse legítimo.”
No sentido inverso, Fátima Fernandes exige uma clarificação dos partidos da oposição quanto ao lítio, “principalmente àqueles que são do arco da governação”. Ou seja, a autarca fala para a AD. A título oficial, PAN, Bloco de Esquerda e Livre são os únicos partidos que já se manifestaram abertamente contra explorações do lítio. (Mariana Mortágua esteve na semana passada na Serra da Argemela.)
Fátima sublinha tudo o que diz com o olhar. E garante que não se sente “condicionada de alguma forma” pelo PS.
“Sou militante do PS, mas além disso sou uma pessoa que pensa, que se informa, e, portanto, tenho direito à minha opinião e a tomar uma posição.”
Acontece que, em vésperas de legislativas, o tema do lítio condiciona o voto e a discussão política dos seus munícipes, em particular nas localidades como Rebordelo e Morgade – as aldeias que irão sofrer mais consequências se a exploração avançar.