Habitação, problema universal
De acordo com o que ditam os números e parâmetros do Instituto Nacional de Estatística, António é pobre.
É um português no universo de um milhão e 700 mil que sobrevivem com menos de 551 euros por mês. Ao mesmo tempo, pertence também à fatia de 50% da população que não tem capacidade para pagar as suas despesas mensais, conforme revelou, ainda em setembro, o primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade.
Dados do INE indicam que a taxa de risco de pobreza (após transferência de prestações sociais), em 2021, era de 16,4% — menos 20 pontos percentuais que no ano anterior. Indicador, porém, que ainda não contabiliza o impacto da guerra na Ucrânia e da inflação nos últimos dois anos.
O problema da habitação é nacional, conforme tem sido noticiado e documentado, e tem maior incidência em Lisboa e no Porto. Mas mesmo na zona centro e interior de Portugal — onde encontrámos António — também já se faz sentir, em particular junto à população mais pobre, mais vulnerável.
Segundo dados fornecidos à Renascença, só no segundo trimestre de 2023, o número de famílias abrangidas pelo apoio monetário da Cáritas de Castelo Branco — ajuda para comprar medicamentos ou pagar rendas, por exemplo — passou de 86 para 139.
“O tema da habitação está na ordem do dia, porque em Castelo Branco também os preços subiram bastante e os ordenados não acompanharam”, diz Maria de Fátima Santos, diretora da Cáritas de Castelo Branco, à Renascença.
Há cada vez mais “pessoas que trabalham, mas que têm muita dificuldade em pagar a casa”. Outro reflexo da atual conjuntura está também nas dificuldades em encontrar quartos para casos de intervenção social.
“Castelo Branco, capital de distrito, não tem sem-abrigo, mas está muito no limiar. Até agora, quando aparecia um passante, um caso que surgisse, era possível encontrar uma pensão, um quarto. Sempre asseguramos isso com muita facilidade. Neste momento, não está a ser assim tão fácil”, admite.
O caso de Tiago ilustra as palavras de Maria de Fátima Santos. O homem de 42 anos está desempregado, recebe o Rendimento Social de Inserção (RSI) e frequenta um curso profissional de eletromecânica. Todos os meses, paga 220 euros pelo quarto onde vive.
“O RSI são 209 euros e onze cêntimos. A minha renda é mais que o RSI, esquecendo comida e medicamentos”, sublinha.
Tiago não vive na rua graças ao apoio da mãe, “o pouco que ela recebe da pensão”, a ajuda de um amigo, que lhe “emprestou dinheiro durante muito tempo”, de algumas organizações de cariz social locais e também da Segurança Social.