“O meu filho é que me ajuda”
A nota de 20 euros que Maria Amélia entregou para pagar as compras, pouco deixou de troco. No dia em que foi às compras, ouviu nas notícias as medidas do segundo pacote de apoio às famílias contra a inflação. “Ouvi no noticiário da 1h00, vamos ver se vão cumprir, dizem muita coisa e não a fazem. A luz e o gás sei que vão descer… mas como é que eu posso viver? Pago duas rendas, uma casa e uma arrecadação, 175 euros mais 101 euros de renda, só com a baixa do marido, cerca de 400 euros, pagar rendas águas, luz, gás, medicação, em que é que corto? O meu filho é que me ajuda, trabalha numa superfície comercial e às vezes traz-me compras”, desabafa.
Vitória Andrade, de 80 anos, sai poucas vezes para ir à mercearia, mas garante que o marido anda sempre à procura das promoções. “Vai ao Lidl, ao Continente, vai a todo o lado”.
“Procuramos produtores locais, sem taxas de transporte”
A proximidade é a aposta do gerente da mercearia, Bruno Faria, de 25 anos, que há cerca de meio ano, decidiu deixar os Açores para investir na Serra da Estrela, com foco na sustentabilidade e na venda a granel.
“A proximidade com o cliente também vende, tanto os jovens como os mais velhos querem ser ouvidos, querem sentir que fazem parte, queremos olhar pelo cliente e ouvi-lo”, revela Bruno.
O gerente acrescenta outras apostas para conseguir oferecer melhores preços aos clientes com mais dificuldades. “Procuramos produtores locais, sem taxas de transporte e investimos na venda a granel. Ter oportunidade de levar apenas o que é preciso é importante para estas pessoas, não haver desperdício”, valoriza.
Bruno Faria é natural de Pontal Delgada. Trabalhava como consultor de gestão numa empresa e foi num trabalho de consultoria que conheceu a Serra da Estrela e se apaixonou pela terra.
“Nas três semanas que passei aqui em Gouveia, foi me feita uma proposta para aprender com o Sr. Pessoa Lopes, já com 40 anos de experiência. Gosto imenso destas zonas pacatas, faz-me lembrar a minha ilha, só me faz confusão não ver o mar, mas tive oportunidade de ver a neve. Tem a sua beleza, mas é mal aproveitada. Há falta de pessoas com interesse em apostar na população local, porque a beleza está aqui, é só uma questão de explorar e cativar”, considera o responsável da mercearia.