Outras formas de pagamento?
Além da Iniciativa Liberal, também o Chega apresentou um projeto de lei relativo à Contribuição Audiovisual (CAV) que será discutido, esta quinta-feira, na Assembleia da República. Acontece que, o partido liderado por André Ventura, ao contrário do liderado por Rui Rocha, não pretende abolir a taxa, antes alterar a forma de pagamento e alargar o universo das situações de isenção.
No entender do Chega, a cobrança da CAV “deve passar para as empresas fornecedoras de pacotes de serviços de comunicações eletrónicas”. A responsabilidade, portanto, ficaria nas mãos de operadoras de telecomunicações como a MEO, NOWO, NOS e Vodafone.
Ao nível europeu, esta não seria uma mudança totalmente inusitada, tendo em conta dados da European Broadcasting Union (EBU).
Se em Portugal, Itália, Grécia, Bósnia ou Sérvia, a CAV aparece na fatura da eletricidade, na Polónia é um valor que o consumidor paga no balcão dos Correios. Já na Alemanha, a CAV é paga diretamente pelo utilizador à empresa do serviço público de rádio e televisão.
Uma alteração como a desenhada pelo Chega, todavia, teria consequências, a principal das quais mexer com o valor que a RTP recebe anualmente por via da CAV. Porquê? “O universo é mais pequeno”, sublinha Alberto Arons de Carvalho à Renascença.
O número de habitações e edifícios em Portugal - desde 2005, a CAV aplica-se a todos os consumidores de eletricidade e não apenas aos domésticos - que pagam uma fatura da eletricidade é muito superior àquele dos que têm contratado um pacote com uma operadora por cabo.
Note-se: de acordo com a ANACOM, em 2021, cerca de 4,4 milhões de lares portugueses já pagavam para ter acesso a serviços televisivos por cabo. Ao mesmo tempo, segundo dados provenientes dos Censos de 2021, existem em Portugal 3,5 milhões de edifícios clássicos (que podem ser utilizados para habitação ou não) e 5,9 milhões de alojamentos.
“O que o Chega demagogicamente não diz é que, sendo um universo mais pequeno para se atingir o mesmo valor, cada cidadão, cada família que paga o acesso a redes de cabo e aparentados, teria de pagar mais”, aponta o representante do Governo no CGI da RTP.
E depois acrescenta: “O que o Chega não diz é que esta transferência envolveria um aumento substancial da CAV, a não ser que o efeito pretendido fosse esvaziar a RTP, diminuindo as suas receitas de uma forma drástica, o que então prejudicaria a prestação do serviço público pela RTP.”
A atual moldura da CAV antecipa a possibilidade de qualquer cidadão que receba um apoio social possa pagar uma taxa reduzida (um euro por mês). A hipótese de isenção total também existe para utilizadores com consumo anual de eletricidade inferior a 400 kWh.