Acudir a quem se pode
Só na freguesia de Colmeias, na semana de 11 a 17 de julho, arderam duas casas de primeira habitação. Uma, na localidade da Farraposa, propriedade de um emigrante, estava desocupada. “Se calhar a pessoa, que está fora do país, ainda nem tem conhecimento”, admite Artur Santos. Outra deixou um homem sem teto.
Da moradia que existiu, colada à estrada N350, em Feijão, sobram apenas os escombros, ladeados por carcaças de carros carbonizados. No local, uma equipa de três profissionais tenta restaurar a corrente elétrica. Fernando Silva, o proprietário, também está presente, mas prefere não falar.
“O que há para dizer?”, questiona, enquanto aponta para os destroços. “É ver isto tudo, o que sobra, e dizer a verdade.”
É nítida a revolta na voz. Para além da habitação, Fernando – que já foi emigrante na Suíça e agora está alojado na casa de uma irmã -, perdeu também parte da sua arte. Os vasos de madeira que vendia, esculpidos em troncos de árvores, foram-se.
Do outro lado da estrada, Duarte Ascensão remexe os destroços de um estaleiro de máquinas agrícolas, propriedade da empresa para a qual trabalha; tenta ver se há peças e equipamentos que ainda possam ser salvos. O homem de 52 anos tem as mãos e a roupa enfarruscadas, marcadas pelo negro do carvão. E ainda não tem palavras para descrever o que aconteceu.
“Foi um horror, pronto. Não há explicação. Não houve tempo para socorrer nada. Foi um horror mesmo. Não há explicação.”
Quem presenciou as chamas, tentou “acudir, ajudar os vizinhos”, mas “não deu tempo para nada”. Duarte ajudou um amigo que “ficou atrapalhado”, “intoxicado com o fumo”. “Ele foi para o hospital e eu fui socorrer a casa dele”, conta.
O homem acredita que o seu empregado não está em risco, que poderá continuar a cuidar da manutenção de propriedade florestal. Até porque, considera, é algo essencial para controlar e evitar tragédias geradas por incêndios. “Está tudo ao monte. Principalmente ao pé das casas, que as pessoas deviam deixar limpar. Mas alguns não deixam”, diz.