Estado tem de encontrar soluções
Do moinho da Aventeira, outra das localidades de Alvaiázere, situado a meio de uma colina esfolada pelas chamas, vê-se grande parte da área do concelho. A paisagem, salpicada de largas manchas pretas, estende-se por quilómetros e salta as fronteiras do distrito de Leiria. No horizonte, os olhos tocam já o território de Santarém.
Quando a Renascença visita a freguesia, a 18 de julho, dá-se a coincidência de três dos quatro deputados eleitos pelo PSD no distrito de Leiria nas últimas legislativas estarem também de passagem. A situação de contingência cessou há menos de 24 horas e os social-democratas vieram ver o “território fustigado” pelas chamas, explica Hugo Oliveira, deputado e vice-presidente da bancada do PSD.
O deputado repete a queixa do autarca de Alvaiázere, relativa à falta de meios aéreos, mas assume que a capacidade de resposta dos bombeiros e restantes autoridades foi melhor do que em 2017. Em muitos sítios, conta, “foram as pessoas que defenderam com garra e vontade as casas próprias e dos vizinhos”.
Em todo o caso, acredita que há culpas a atribuir pelo sucedido. Primeiro, à gestão florestal, em particular à empresa do estatal Florestgal. “A Florestgal devia ter a função da gestão da floresta, mas não faz nada de palpável. Dois ou três apontamentos, um protocolo. Mas aquilo que devia ser a sua função não se sente. E o resultado está à vista”, diz.
Segundo, ao próprio o Governo. Uma das prioridades do Executivo devia ser tornar a floresta “rentável”, de modo a incentivar os proprietários a tomar conta dos seus pedaços de terra e a cadastrá-los. “O facto de não se retirar o lucro da propriedade faz com que os próprios donos não tenham interesse em poder explorar o seu território. Há aqui muito trabalho a fazer”, atira.
Dados os 43 mil hectares ardidos em todo o país entre 7 e 18 de julho, 12.500 dos quais no distrito de Leiria, Hugo Oliveira defende que agora é essencial ajudar e apoiar os portugueses – como o idoso José Paixão – que viram as suas casas e terrenos transformarem-se em cinzas.
O vice-presidente da bancada do PSD toma esta posição quando ainda não passaram sete dias desde que António Costa afirmou que “o Estado não é segurador universal”, após ser questionado sobre os prejuízos causados pelos incêndios em eventos como o festival Super Bock Super Rock e a concentração motard de Faro, ambos deslocalizados pela situação de contingência. “A ideia de que o Estado tem de segurar qualquer eventualidade da vida, de pessoas ou empresas, é uma realidade que não existe”, disse o primeiro-ministro.
Tais declarações “foram infelizes”, diz Hugo Oliveira. No fim de contas, “o Estado tem a obrigação de, conjuntamente em parceria com os privados, garantir a segurança das pessoas. É necessário organizar, é preciso que as pessoas sintam essa segurança. E não sentem.”
“Devem ser encontradas soluções, como já foi feito no passado, de forma a garantir que as pessoas que tiveram prejuízos possam ser reembolsadas ou possam, de alguma forma, recuperar”, acrescenta.