De volta aos dias que se seguiram ao incêndio, recorda-os como intensos e dolorosos. Perdeu um primo. “Andava muito triste, não me conseguia separar da minha mãe. Tinha muito medo de me separar dela. Não se conversava de mais nada, só sobre os fogos e das pessoas que perderam filhos, as casas, tudo”.
Dora anui. A voz fica trémula sempre que volta a falar daquela altura. “Nós vivemos num apartamento e eu não podia sair de casa”, começa por contar.
Recuperar Tomás “não foi fácil”. Mas hoje em dia já lida melhor com o que aconteceu.
“Foi um dia muito triste. Foi difícil para toda a gente, com muitas perdas, mas o tempo foi passando, e conseguimos superar isso”, acredita.
Mas até chegar a este ponto, Tomás passou “por ataques de pânico” e um medo crescente de perder a mãe.
“Se a campainha tocasse às cinco, e ele saísse às cinco menos dez, pronto, era uma berraria, entrava em pânico. Na escola viam-se aflitas. Eu tinha de estar sempre ali (…) Comecei a fazer o meu dia a dia em função dele. Se ele não queria, eu não fazia”, lembra Dora.
O toque da sirene dos bombeiros continua a ser um botão direto no cérebro para o dia do grande fogo.
“A sirene toca, e eu começo a contar aqui em baixo ‘um, dois, três’. Não chego aos quatro, porque o Tomás já está aqui em baixo [ndr:a casa em que vivem tem dois andares]. Fica em pânico, inconscientemente entra em parafuso”, explica a mãe.
Lidar com as emoções
Para ultrapassar estes problemas, o menino teve apoio de dois psicólogos durante os últimos cinco anos. Para contrariar a tendência de a mente voltar ao dia 17 de junho, ensinaram-lhe a “respirar três vezes fundo e pensar em tudo o que havia de bom ao meu redor”.