A defesa do "som vienense"
Uma das lutas travadas pela orquestra durante a pandemia teve a ver com a distribuição dos músicos em palco. O contrabaixista
lembra que as autoridades pediam que tocassem com mais de dois metros de
distância entre os músicos, para prevenir transmissões de coronavírus,
mas a orquestra recusou.
“Somos famosos pelo nosso som, e o nosso som é realmente muito
especial. E qual é o segredo do som? Bem, um dos segredos é que tocamos
como tocamos, é também a distância que temos em relação ao vizinho",
revela.
Outro dos segredos para o “som vienense”, revelou-nos Daniel
Froschauer, é o facto de a Filarmónica ser também uma orquestra
habituada a acompanhar óperas. Os músicos da Filarmónica de Viena
trabalham também na orquestra da Ópera Estatal de Viena - é lá que são
selecionados para a Filarmónica.
“Como orquestra de ópera somos obrigados a ouvir sempre os cantores
para os acompanhar. E noto que se há um grande cantor em palco, a
orquestra soa diferente porque quer corresponder ao som do cantor”.
Em orquestra, a dinâmica é a mesma. “Quando tocamos concertos como
Johann Strauss, por exemplo, ele escreve frequentemente as melodias para
os primeiros violinos, fazemos o papel do cantor. Os nossos colegas são
treinados para nos acompanhar, da mesma forma que acompanhamos os
cantores na ópera”.
“Posso dizer que é como uma grande orquestra de câmara”. O mais
importante, por isso, é os músicos ouvirem-se – por isso, tocarem
afastados estava fora de questão.
Tocar para uma plateia vazia e a ausência de "equilíbrio" trazida pela pandemia
A Filarmónica de Viena foi a primeira do mundo a fazer uma digressão ao
estrangeiro após o início da pandemia. Logo em novembro de 2020, os músicos foram ao Japão, mas a regra era ficar no quarto, em quarentena. Não podiam
sair "um metro fora do hotel”.
Para os músicos, a pandemia foi tempo de reflexão. Quando tiveram de tocar para salas vazias, deram-se conta da importância de uma plateia.
"Não tinha notado a importância que o público tem para mim, como artista, até
esta situação. Era normal tocar para um público, mas quando tínhamos
aqueles concertos fantasma, só para a televisão, o concerto terminava e era
um silêncio... Como num funeral. Não havia aplausos, nada”.
Michael Bladerer recorda um concerto particularmente difícil neste aspeto. “O maior desafio talvez tenha sido o concerto de Ano Novo sem
audiência. Porque, depois de uma polka, haver silêncio é uma situação
muito estranha a que não estávamos habituados. Depois de uma boa valsa
pode-se ficar em silêncio, mas a polka acaba sempre como um ´pam pam
pam’, ´Bravo´!”
Durante as digressões em pandemia, os músicos encontraram públicos
particularmente sedentos de música. A harpista Ann Lenaerts deixa uma
reflexão: num mundo de tantos desequilíbrios, a música traz-nos mais
equilíbrio.
“Tenho a sensação de que estamos a viver uma época muito inquietante. De alguma forma tivemos a crise da Covid-19, temos uma guerra, temos uma crise energética. Há tantas coisas que se sentem desequilibradas. Por isso penso que as pessoas procuram ainda mais beleza nas suas vidas e algo que as conforte. E talvez pareça cliché, mas penso que as pessoas precisam realmente do sentimento de unidade para estarem juntas numa experiência de música. E sim, penso definitivamente que precisamos de música e cultura nas nossas vidas”.