Discos ou balões?
Entre 4 e 12 de fevereiro, foram abatidos quatro óvnis dentro do espaço aéreo partilhado pelos EUA e Canadá na América do Norte. O primeiro, que deu origem a um pequeno incidente geopolítico, era um balão-espião chinês. Quanto à natureza dos restantes objetos, até hoje a Casa Branca não prestou mais esclarecimentos.
Os outros três óvnis eram diferentes do balão-espião chinês: tinham forma cilíndrica e eram mais pequenos. Seriam drones miliares? Outro modelo de balão-espião? Porventura, balões meteorológicos fora de rota?
Entre especialistas e analistas, uma das hipóteses levantadas foi que estes objetos eram de origem extraterrestre. Mesmo o Pentágono não descartou totalmente essa ideia.
Publicamente, o general da Força Aérea norte-americana Glen VanHerck afirmou: “Nenhuma possibilidade foi ainda excluída.” Por sua vez, Ronald Moultrie, subsecretário de Defesa para Inteligência e Segurança, disse: “Não encontramos nada que nos leve a crer que algum dos objetos detetados seja de origem alienígena.”
Algum dia teremos respostas? O piloto Júlio Guerra confessa não ter esperanças.
“Se os outros [óvnis] foram abatidos e [os EUA] não disseram nada, é porque não lhes interessa dizer”, comenta, ressalvando em todo o caso, que o mais provável é que fossem balões-espiões, dada a conjuntura internacional do momento presente.
O investigador Joaquim Fernandes segue o mesmo trilho: salvo raras exceções, “os cientistas estão sempre sujeitos ao interesse militar ou estratégico”, nota.
“Se formos pensar que alguma vida inteligente anda por aí a passear em volta da Terra, que não tem nada a ver com a nossa civilização, então essa cultura teria mais do que capacidade para não ser intercetada ou detetada. Estamos a falar de objetos mais ou menos mundanos, mais ou menos ao alcance das nossas tecnologias de interceção”, diz ainda.
Os novos interessados no fenómeno dos óvnis não “querem acreditar”, conforme se dizia na famosa série televisiva “Ficheiros Secretos”. Eles querem provas, querem investigar.
Investigadores (portugueses)
Vítor Moreira tinha 14 ou 15 anos. O português, que trabalha como técnico de medicina no trabalho, não consegue precisar se corria o ano de 1975 ou 76. O que tem como certo é que um dia, ainda adolescente, ao pegar num jornal regional do Porto, deparou-se com uma notícia sobre um congresso em torno de objetos voadores não-identificados no México. E isso marcou-o.
“A partir daí foi um interesse fantástico de tentar aprofundar esse fenómeno a nível nacional, que informação era possível disponibilizar. Foi um interesse que nunca mais parou”, conta à Renascença.
O presidente do Centro de Investigação de Fenómenos Aeroespaciais (CIFA), organização fundada em julho de 2021, transmite o entusiasmo de um agnóstico, que quer muito saber a verdade, do que existe além no espaço, mas também a seriedade de alguém que já teve de justificar, múltiplas vezes, o seu interesse particular.
“A nossa orientação não é pela crença, é pelo estudo científico. Tentamos comprovar pelos métodos científicos que os dados que são recolhidos possam ser ou não devidamente explicados. Isso é a nossa grande essência”, frisa.
O CIFA, que conta com pouco mais de 30 membros, entre os quais especialistas de vários campos académicos (biólogos, físicos, entre outros), acredita que os óvnis “são um assunto que deve ser estudado”. Aliás, para fugir ao estigma que os óvnis carregam, Vítor prefere falar em Fenómenos Aeroespaciais Desconhecidos (FAD).
“Ainda somos considerados um bocadinho, passo o termo, os maluquinhos dos óvnis. Noutras décadas a investigação era em parte amadora, mais de incentivo pessoal, até mesmo colegial. Agora existe um espírito muito mais aberto. A informação de que dispomos é muito mais aprofundada”, nota.
Em 2021, o CIFA recebeu 19 relatos de Fenómenos Aeroespaciais Desconhecidos (FAD) e para todos foi possível encontrar justificação. Já no ano passado, foram 25 testemunhos, “mas todos devidamente explicados”.
“Quando surgem dúvidas, no que tem a ver com artefactos aéreos, nós contactamos com entidades oficiais. Pedimos a sua opinião, a sua colaboração, que geralmente é dada. Isso é o que é mais importante no meio de tudo isto. Não haver dúvidas. O estudo da óvnilogia tem de passar por essa orientação”, conta.
Muitos dos relatos de óvnis partem de profissionais do meio aéreo, nomeadamente pilotos. “Não há outros interesses do que pura e simplesmente relatar uma ocorrência. Só por aí, penso que o assunto tem de ser levado muito a sério. Falamos de profissões que são extremamente exigentes no seu desempenho, quando acontece alguma coisa, são obrigados a declarar”, diz.
Nem por acaso, o primeiro avistamento de um óvni de que há registo aconteceu num período de conflito. E foi feito, claro, por um piloto.