A foto
Foi sorte. Não a procurei. Esse dia, para mim, não tinha sido de muitas fotos porque estava com outras tarefas, estava a ajudar os colegas da logística. Fomos atestar de combustível um dos veículos a uma estação de serviço, quando nos chegou o alerta de que possivelmente poderia haver um ataque.
Levamos o aviso a sério, como deveríamos. E, bom, fomos tratar do combustível, sempre atentos a tudo ao nosso redor. Esperando que nada acontecesse, mas sempre alerta.
E quando terminamos de abastecer de combustível, num local a cerca de quatro quilómetros do centro de Kiev, começámos a regressar. Eu estava com um “fixer” [morador contratado para servir de guia, motorista e intérprete] que estava a conduzir e vejo uma bola de fumo negro erguer-se por detrás de umas árvores.
E então apercebo-me que está mesmo na base de uma torre de comunicações e o meu “fixer”, que é local, diz-me que é a torre de televisão.
Então damo-nos conta de que o alerta era real e que estavam a atacar partes da infraestrutura importantes. Aproximamo-nos um pouco, estamos num veículo blindado, que nos permite estar um pouco mais próximos. De qualquer modo teríamos de passar perto dali.
E é aí que percebo que a torre não foi derrubada. E que pode haver um segundo lançamento.
Quando estamos a virar, peço ao condutor que manobre a camioneta para ficar com uma visão frontal da torre e, de repente, pfff… [a explosão].
Pego na câmara, que já trazia justamente com a lente indicada, que era uma 35mm, “full frame”. Dou três disparos e passou.p
Disse então ao condutor para regressarmos.
Entramos numa rua lateral a observar um pouco a situação e vemos pessoas a passar a estrada. Faço um par de fotos aí, imediatamente. Eu trabalho para um serviço de agência, então mandei uma foto, avisei que estávamos bem e o que estava a acontecer. Fiz um pouco de vídeo com o meu telefone e coloquei no sistema de envio.
Dez minutos depois, digo ao meu companheiro para passar em frente para ver mais de perto. Quando nos aproximamos vi uns edifícios destruídos e saí, quatro, cinco minutos. Digo-lhe: “se estiver mais de cinco minutos grita-me, para voltar, posso perder a noção do tempo”. Saio, trato de fazer algumas fotos, ver se há feridos.
Não vejo ninguém. Soube depois que tinham morrido cinco pessoas, mas não as vi. E depois voltamos ao veículo e viemos embora, estava a ficar de noite, era melhor não ficar ali.