​Confrontos no Irão. "Autoridades com falta de sabedoria para entender os jovens"

Iraniana a viver em Portugal manifesta preocupação e angústia com as manifestações no seu país, após a morte de uma jovem que tinha sido detida pela polícia por, alegadamente, estar a usar o véu hijab incorretamente.

22 set, 2022 - 16:57 • Pedro Mesquita , com redação



Sepideh Radfar: "Autoridades do Irão com falta de sabedoria para entender os jovens"
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Sepideh Radfar: "Autoridades do Irão com falta de sabedoria para entender os jovens"

O regime do Irão está a demonstrar “falta de sabedoria e de maturidade” e não consegue entender os jovens, afirma a professora iraniana Sepideh Radfar, que a partir de Portugal comenta as manifestações após a morte de uma jovem às mãos da polícia. Masha Amini, de 22 anos, foi detida por estar a utilizar o véu hijab, alegadamente, de forma incorreta ao definido por lei.

Em declarações à Renascença, a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e diretora do Centro de Iranologia defende mudanças na lei do hijab e diz que a sociedade iraniana precisa de diálogo.

Como está a acompanhar as manifestações e confrontos no Irão, após a morte de Masha Amini?

Com muita preocupação e angústia, porque tudo o que se está a passar mostra, por um lado, a revolta de uma geração nova e, por outro, os confrontos que estão a acontecer agravam ainda mais a situação.

Parece ser uma bola de neve. O que pode acontecer nas próximas horas?

Tudo depende como é que as autoridades tentam entender os jovens. Esta geração nasceu depois da revolução e o próprio sistema não está a comunicar, não está a entender, não há diálogo entre esta geração jovem e as autoridades. Nada se resolve sem diálogo. Esperamos que haja um diálogo aberto.

Parece-lhe possível haver neste momento um diálogo aberto no Irão?

Eu gostaria, o diálogo é o meu sonho para a sociedade iraniana, mas infelizmente, até agora, não há um diálogo sincero e aberto.


Foto: Str/EPA
Foto: Str/EPA

Sem diálogo, pode haver uma implosão da sociedade?

Tudo dependerá de como os jovens vão continuar a agir. O que é que é certo: a morte desta menina inocente, que provocou esta revolta… há uma lei sobre o hijab no Irão, aprovada há 40 anos, depois da revolução iraniana, e tem que ser atualizada. De acordo com os dados do Estado, mais de 60% das mulheres iranianas não concordam com a lei.

Haverá abertura das autoridades iranianas para mudar a lei?

Eu não posso dizer que acredito. Eu desejo isso. Estou a observar a deceção dos jovens iranianos e espero que as autoridades entendam esta deceção e que resolvam pacificamente os assuntos com a geração jovem.

É uma geração brilhante, são jovens iranianos inteligentes, cultos e trabalhadores. Eles merecem todo o cuidado, porque o futuro do país também depende destes jovens. Eu acho que há uma falta de sabedoria e de maturidade das autoridades que não estão a entender esta geração jovem.

O Irão já está muito isolado do resto do mundo. Há alguma forma de pressão do Ocidente que pudesse contribuir para forçar esse diálogo e ajudar a pacificar o Irão?

A tal pressão ocidental existe com o Irão há 40 e tal anos. A primeira vítima das sanções económicas é a população.

Então, o Ocidente pode fazer alguma coisa para ajudar a nova geração?

Primeiro, não tentar intervir nos assuntos internos. Apoiar, sim. Falar, chamar à atenção, uma comunicação mais amigável. Isso seria muito mais favorável, porque pressões já existem. O mais interessante seria também da parte do Ocidente abrir o diálogo, sem intenções escondidas.

Se estivesse agora no Irão, tirava o hijab em sinal de protesto?

Eu sou contra o hijab, como sou contra nudismo no meio da cidade de Lisboa. Se estivesse no Irão, acho que iria reagir. Hoje em dia nem aceitamos maus-tratos contra animais.


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