Sem diálogo, pode haver uma implosão da sociedade?
Tudo dependerá de como os jovens vão continuar a agir. O que é que é certo: a morte desta menina inocente, que provocou esta revolta… há uma lei sobre o hijab no Irão, aprovada há 40 anos, depois da revolução iraniana, e tem que ser atualizada. De acordo com os dados do Estado, mais de 60% das mulheres iranianas não concordam com a lei.
Haverá abertura das autoridades iranianas para mudar a lei?
Eu não posso dizer que acredito. Eu desejo isso. Estou a observar a deceção dos jovens iranianos e espero que as autoridades entendam esta deceção e que resolvam pacificamente os assuntos com a geração jovem.
É uma geração brilhante, são jovens iranianos inteligentes, cultos e trabalhadores. Eles merecem todo o cuidado, porque o futuro do país também depende destes jovens. Eu acho que há uma falta de sabedoria e de maturidade das autoridades que não estão a entender esta geração jovem.
O Irão já está muito isolado do resto do mundo. Há alguma forma de pressão do Ocidente que pudesse contribuir para forçar esse diálogo e ajudar a pacificar o Irão?
A tal pressão ocidental existe com o Irão há 40 e tal anos. A primeira vítima das sanções económicas é a população.
Então, o Ocidente pode fazer alguma coisa para ajudar a nova geração?
Primeiro, não tentar intervir nos assuntos internos. Apoiar, sim. Falar, chamar à atenção, uma comunicação mais amigável. Isso seria muito mais favorável, porque pressões já existem. O mais interessante seria também da parte do Ocidente abrir o diálogo, sem intenções escondidas.
Se estivesse agora no Irão, tirava o hijab em sinal de protesto?
Eu sou contra o hijab, como sou contra nudismo no meio da cidade de Lisboa. Se estivesse no Irão, acho que iria reagir. Hoje em dia nem aceitamos maus-tratos contra animais.