Mortalidade

Mais de 6 mil mortes em excesso em 2022. Covid-19 só explica 2 mil

28 mar, 2023 - 19:02 • Diogo Camilo

INSA regista quatro períodos do ano passado com mortes acima do esperado: dois deles são explicados pela pandemia, o terceiro por uma onda de calor e o último coincide com períodos de frio extremo e gripe, que começou mais cedo do que em anos anteriores.

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Foram identificadas mais de seis mil mortes acima do esperado, em quatro picos de excesso de mortalidade, durante o ano de 2022. Duas delas coincidem com picos de óbitos por Covid-19, mas a pandemia só explica cerca de dois mil, com os outros quase quatro mil a estarem associados ao frio extremo ou ondas de calor.

Segundo o relatório Monitorização da Mortalidade de 2022, divulgado esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), foi registado um total de 124.602 óbitos em Portugal, com os anos de 2020, 2021 e 2022 a terem sido os que registaram mais mortes desde que há registos.

No estudo, o INSA indica que o aumento da taxa de mortalidade representa, também, “um aumento do risco de morrer, em relação aos anos de pré-pandemia, que não é explicado pelo envelhecimento populacional”.

Quatro picos de excesso de mortalidade

Em 2022, o INSA aponta que existiram 6.135 óbitos em excesso, distribuídos por quatro períodos com mortes acima do esperado.

O primeiro aconteceu entre 17 de janeiro e 6 de fevereiro, quando foram registadas 891 mortes em excesso - 12% acima do esperado -, com o instituto a apontar como causas a “onda de Covid-19 e um período de temperaturas baixas”. No mesmo período foram registadas 513 mortes por Covid-19, o que significa que ficam quase 400 mortes por explicar.

O segundo período aconteceu entre 23 de maio e 19 de junho, quando foram identificados 1.744 óbitos em excesso, dos quais a Covid-19 só explica pouco mais de mil. O INSA indica que o intervalo coincide “com uma vaga de Covid-19 e um período de temperaturas anormalmente elevadas para a época do ano de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)”.

No terceiro período, entre 4 de julho e 7 de agosto, não há um aumento das mortes por covid-19: o INSA atribuiu as 2.401 mortes acima do esperado (25% de excesso de mortalidade em relação a anos anteriores) a períodos de calor extremo, identificados pelo sistema de vigilância ÍCARO. Foram registadas 481 mortes por Covid-19 neste período, ficando por explicar quase duas mil mortes.

No último destes quatro períodos, entre 28 de novembro e 18 de dezembro, foram identificados pelo INSA 1.099 óbitos em excesso, com o instituto a indicar que o mesmo é “coincidente com o período epidémico da gripe” que “ocorreu mais precocemente do que nos anos anteriores”. No mesmo intervalo foram registadas 213 mortes por Covid-19.

No total, destas 6.135 mortes acima do esperado nos quatro intervalos de excesso de mortalidade, foram registadas 2.264 mortes por Covid-19, ficando por explicar quase quatro mil óbitos.

Padrão da mortalidade mudou desde a pandemia

No relatório, e apesar dos especialistas do INSA apontarem que os impactos devido à gripe e covid-19 "terão sido inferiores ao observado noutros invernos", é apontada uma mudança de padrão da mortalidade visível após 2019, quer na mortalidade total, que aumentou, quer na mortalidade observada na maioria dos grupos etários.

Segundo o relatório de Monitorização da mortalidade 2022, entre 2019 e 2020 observou-se "o maior aumento da taxa de mortalidade total" (em termos absolutos e relativos) registado na série analisada desde 1991.

Parte do aumento, refere o INSA, estará associado às alterações demográficas no país, mas ao mesmo tempo foi identificado um aumento da taxa de mortalidade em vários grupos etários.

Excluindo o número de óbitos registados por covid-19 entre 2020 e 2022, a taxa de mortalidade total (bruta e padronizada) e em vários grupos etários não apresenta uma tendência crescente.

No entanto, referem os peritos, "não podemos considerar que a mortalidade total excluindo os óbitos covid-19 fosse a mortalidade esperada na ausência de pandemia".

De acordo com números do SICO analisados pela Renascença, foram registados 158 dias com excesso de mortalidade em 2022, o que representa mais de 40% do ano. Nestes dias, foram registadas 15.333 mortes acima do esperado em relação à média de outros anos, nas quais estão incluídos os quatro períodos de excesso de mortalidade identificados pelo INSA.

Este é o terceiro ano consecutivo em que o número de mortes fica acima dos 120 mil, sendo que 2020, 2021 e 2022 passam a ser os três anos com mais mortes em Portugal desde que há registo.

Maio, junho e julho registaram recordes de mortalidade em 2022, enquanto os meses de dezembro, outubro, setembro, agosto e abril registaram o segundo maior número de mortes desde que há registo e março e novembro viveram os seus terceiros meses mais mortais de sempre.

Comentários
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  • Maria
    29 mar, 2023 Palmela 10:58
    Agora e um bocadinho tarde!

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