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100 dias de Greves

Mais de 300 greves em 100 dias. Ano arranca com subida da contestação laboral

13 abr, 2023 - 06:00 • Diogo Camilo

Funcionários judiciais só não estiveram em greve durante nove dias, enquanto professores já emitiram 271 pré-avisos e estiveram em luta em todos os dias úteis do ano. Comboios estiveram em paralisação em metade do tempo.

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Maioria absoluta está a ser sinónimo de contestação social e a luta tem-se concretizado nas ruas. Nos primeiros 100 dias de 2023 não houve um único que não tenha visto paralisações nos quatro grandes setores - educação, saúde, justiça e transportes - e um dia em particular, 17 de março, foi palco de greve da Função Pública e teve 16 sindicatos diferentes em protesto.

Segundo números da Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) foram registadas 283 greves diferentes nos primeiros dois meses do ano - quase o triplo das 99 registadas no mesmo período do ano passado. Destas, 77 afetaram o setor público e 206 o setor privado.

Só no mês de janeiro foram identificados mais de 200 pré-avisos de greve, quatro vezes mais do que no mesmo mês do ano passado.

Este é o maior número de greves registadas nos meses de janeiro e fevereiro desde 2016, altura em que começou a ser feito o registo de pré-avisos por mês, e fica próximo do número total de greves de anos inteiros como 2009 - em que só aconteceram 376.

Mas números da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) analisados pela Renascença são ainda mais volumosos: foram comunicados até 10 de abril, quando foi atingida a centena de dias no ano, 346 pré-avisos de greves nos mais variados setores públicos.

A educação é o setor com o maior número destas paralisações, com 271 greves diferentes, que abrangem todos os 71 dias úteis do ano até ao momento.

Os professores e não docentes estão em greve, através do S.TO.P (Sindicato de Todos os Professores), desde o início do ano e o sindicato já anunciou novas datas de greve entre 24 e 28 de abril e uma manifestação em Lisboa, no dia 25.

Nesta contabilização está ainda a greve distrital da Fenprof, à qual se juntaram outros sindicatos (ASPL, FNE, PRÓ-ORDEM, SEPLEU, SINAPE, SINDEP, SPLIU, SIPE), além de outras greves destes sindicatos que ainda duram.

Na Saúde, a contestação tem sido feita de maneira regional e através do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que esteve de greve em 19 dos primeiros 100 dias de 2023, até à passada segunda-feira.

Nos médicos, há a registar a paralisação da FNAM, a 8 e 9 de março, e a greve organizada pelo Sindicato Independente dos Médicos para médicos de família na Unidade de Saúde Pública do ACES Loures-Odivelas, que ocuparam 28 dos primeiros 100 dias do ano.

Está ainda a decorrer uma greve de administrativos no Hospital Amadora-Sintra, organizada pela FESAP, que se iniciou no passado dia 5 de abril e tem fim previsto para o dia 5 de maio.

Mais de 40 dias de greves nos comboios... e a contar

Nestes números da DGAEP não estão incluídos os transportes. Seja através de greves da CP - Comboios de Portugal ou da IP - Infraestruturas de Portugal, houve comboios parados em 45 dos primeiros 100 dias do ano.

Até ao final deste mês está a decorrer uma greve do Sindicato dos Maquinistas da CP (SMAQ), a quarta deste ano, à qual se juntaram ao longo do ano paralisações do SINFA, SINAFE e SINTAP.

Nas estradas, o cenário foi menos caótico: há a registar uma greve do Sindicato dos Trabalhadores das Infraestruturas Rodoviárias (STIR) que durou o mês de março, enquanto nos autocarros houve uma greve de cinco dias na Carris, em Lisboa, e três dias de greve da Transdev, organizada pelo STRUN.

A última semana ficou também marcada pela greve na Easyjet, organizada pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que obrigou ao cancelamento de 220 voos.

Greve atrasa Justiça

Funcionários de justiça foram os que estiveram mais dias em greve: o Sindicato dos Oficiais de Justiça (SOJ) iniciou a 10 de janeiro uma paralisação por tempo indeterminado contra a falta de funcionários e o congelamento de promoções, o que faz com que tenham estado em greve 91 dos 100 primeiros dias do ano.

A estes junta-se o Sindicato dos Funcionários Judiciais, em greve desde 15 de fevereiro e até 15 de abril, que já anunciou mais 10 dias de luta.

Neste setor está também inserido uma greve na Polícia Judiciária, a decorrer neste momento, e greves nos corpos de guardas prisionais de Lisboa, incluindo uma no Estabelecimento Prisional da capital, que está prevista para o ano inteiro - e é a única que durou todos os 100 primeiros dias do ano.

Há ainda a registar greves no setor das Finanças, da Administração Local e da Agricultura, à qual se junta a grande manifestação do ano, que aconteceu a 17 de março com uma greve da Administração Pública. Nesse dia estiveram em greve, em simultâneo, 16 sindicatos diferentes.

Em resumo, não há nenhum dia deste ano sem greve num dos quatro grandes setores (educação, saúde, justiça, transportes), dado que os comboios estiveram em greve a 1 de janeiro e na primeira semana do ano, professores estiveram em greve todos os dias de semana e funcionários judiciais estão em greve desde 10 de janeiro.

E depois de um março quente, abril não promete arrefecer a luta. Neste momento estão em greve 20 sindicatos, entre eles 10 sindicatos de professores, a greve de comboios do SMAQ, greves no Amadora-Sintra e de médicos em Loures-Odivelas e de funcionários judiciais.

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