Os últimos tempos foram “algo desafiantes” para o técnico de Emergência Pré-Hospitalar do INEM. No pico da pandemia, passou várias horas nas filas para as urgências dos hospitais de Lisboa: chegou a esperar oito horas com um doente na ambulância.
Álvaro Almeida é técnico de Emergência Pré-Hospitalar no INEM há 5 anos e desde outubro que deixou os turnos no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Lisboa para reforçar os turnos nas ambulâncias.
Os últimos tempos foram “algo desafiantes” para o técnico, que trabalha em Lisboa mas vive com a companheira, também do INEM, nas Caldas da Rainha.
Foram vários os turnos da tarde acabaram por terminar muito depois da hora - às vezes duraram toda a madrugada.
No pico da pandemia, no final de Janeiro e início de fevereiro, passou várias horas nas filas para as urgências dos hospitais de Lisboa. O máximo que esperou, com um doente na ambulância, foram oito horas.
Álvaro diz não ter assistido a nenhuma situação particularmente complicada, já que não acompanhou situações de risco de vida eminente.
“Estávamos sempre junto das vítimas, íamos fazendo reavaliações periódicas, conforme a situação clínica, e aquilo que realmente me preocupava era mais o conforto do que a situação clínica”, conta. Às vezes, a fome e o frio eram o mais difícil de suportar.
Diz ter ouvido falar de casos mais graves, mas não viveu nenhum.
Confrontado com as declarações do hospital de Santa Maria, de que apenas 15% dos doentes nas ambulâncias necessitavam efetivamente de ser observados na urgência, o técnico admite que muitas urgências poderiam ser evitadas.
“O problema era a falta de resposta de outros lados. As pessoas diziam que o centro de saúde estava fechado, a linha de saúde 24 não atendia. As pessoas iam ao hospital por estarem assustadas”, conta Álvaro.
“Assisti a um grupo de jovens que estava com tosse e foi ao hospital porque queria fazer o teste. Obviamente que isto vai entupir as urgências”.
Álvaro considera que a resposta poderia ter sido planeada de outra forma. “O que se fez no início de fevereiro, de as ambulâncias poderem ser encaminhadas para centros de saúde, penso que devia ter sido articulada mais cedo”, diz à Renascença.
Com a companheira a trabalhar no mesmo local, Álvaro não sentiu uma dificuldade grande em gerir o tempo familiar. Mas quando fizer as contas ao ano que passou, aquilo que vai ficar marcado é a morte do pai, de quem não se pôde despedir devido à pandemia.
“Está-me atravessada aqui na garganta”, confessa.