Susana testemunhou uma “generosidade extrema” na equipa

A enfermeira de UCIP do Hospital de Viseu viu o seu serviço desdobrar-se a cada dia, colegas a aprender em tempo recorde e a fazer "turnos atrás de turnos". Deste ano, fica uma “história de união e superação”.

Oiça aqui o essencial da entrevista a Susana Antunes, enfermeira especialista em UCI no Centro Hospitalar de Tondela-Viseu

Susana Antunes é enfermeira na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital de Tondela-Viseu há 23 anos, mas nunca testemunhou um tempo semelhante ao do último ano, em particular ao mês de janeiro.

A enfermeira descreve tempos caóticos, em que as necessidades de cuidados intensivos não paravam de aumentar. Nesse mês, o hospital foi obrigado a abrir camas de cuidados intensivos no serviço de otorrino. “Chegou ao limite de dez. Não sabíamos quando ia parar”.

Transformar uma enfermaria normal numa unidade de cuidados intensivos, do dia para a noite, foi um enorme desafio. Susana dá um exemplo: “temos doentes com nove seringas e bombas perfusoras, cada uma com o seu cabo de alimentação à corrente. Temos um ventilador e um monitor, cada um com um ponto para ligar à corrente elétrica e temos duas tomadas na cabeceira do doente. Isto diz tudo”, diz.

“Houve uma altura em que era assustador” não saber quando os números iriam estagnar, conta a enfermeira.

Com cada vez mais camas de cuidados intensivos, foi também necessário contratar mais gente e chamar colegas de outras especialidades, sem experiência de UCI.

“A formação foi formação e trabalho ao mesmo tempo”. O período de formação com supervisão de um enfermeiro mais velho teve de ser muito encurtado.

“Se nos contassem isto há dois anos, que alguém ao fim de quatro turnos, vindo do bloco operatório, de qualquer outro serviço, estaria a assumir dois doentes, diríamos que era impossível”.

Susana diz que só foi possível dar resposta devido a uma “generosidade extrema” da equipa, que teve um “enorme espírito de missão” para fazer turnos após turnos, mesmo em condições muito difíceis.

A nível pessoal, a enfermeira diz que os primeiros meses foram particularmente difíceis, pela angústia constante de poder infetar a família. Dormia num quarto separado e procurava não se aproximar dos filhos e do marido.

Desses meses, ficou com marcas que não vai mais esquecer.

Nos últimos meses, a vacina e o conhecimento mais aprofundado do vírus trouxe mais alguma tranquilidade ao relacionamento com a família, mas a terceira vaga veio trazer uma carga horária muito superior ao normal e reduzir o tempo em família.

No futuro, contará este tempo como uma “história de união e superação”, porque viu a equipa unir-se como nunca. “Com esforço, temos conseguido”, garante.