Para Bruna, uma morte já é “só” uma morte

A assistente operacional do Hospital do Tâmega e Sousa receia parecer fria, mas depois de testemunhar tantas mortes, às vezes três, quatro por turno, diz que esta já se tornou uma realidade na vida da equipa e não tem o mesmo impacto.

Oiça aqui o essencial da entrevista a Bruna Silva, assistente operacional no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa

Aos 30 anos, Bruna Silva é assistente operacional no serviço de ortopedia do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Trabalha neste hospital há sete anos, mas há três que está a estudar enfermagem.

“Como já conheço esta realidade, achei que conseguia ter mais autonomia, a minha vontade é sempre crescer mais um bocadinho e achei que este fosse um bom caminho”, conta à Renascença.

Atualmente, tenta esticar os dias para conseguir conciliar o estágio em Felgueiras e o trabalho em Penafiel. Como assistente operacional, é o braço direito dos enfermeiros - ajuda em tudo o que eles precisarem e é o primeiro ponto de contacto com o doente. Ajuda a dar banhos, a fazer as camas de lavado e acompanha os doentes nas suas necessidades mais básicas.

A pandemia veio transformar o serviço de ortopedia onde trabalhava num internamento Covid-19. A partir daí, “mudou tudo” para a auxiliar, desde o fato “horrível” que começou a ter de vestir às novas rotinas.

“Passou a ser um serviço mais triste”, em que os doentes nem podiam ver as caras dos profissionais de saúde, diz Bruna.

Nos últimos meses, Bruna aprendeu a lidar com a morte de outra forma. O aumento da mortalidade fez com que esta se tornasse uma realidade muito mais presente e “normal” na sua vida.

Em entrevista à Renascença, diz ter receio de parecer demasiado fria, mas assume que depois de vários turnos a assistir ao fim de vida dos doentes, a morte já não tem o mesmo peso.

Por outro lado, apesar de todos os transtornos pessoais que a pandemia trouxe - desde a menor liberdade às dificuldades no curso - Bruna diz que este ano ainda lhe deu mais força. "Se eu consigo fazer isto como auxiliar, porque não fazê-lo como enfermeira e cuidar de quem precisa?".