A anestesiologista do hospital do Tâmega e Sousa quer que um dia o filho Lourenço saiba “todos os sacrifícios que fez por ele” durante este ano, com alguma “fragilidade emocional”, mas com um “sentido de missão muito grande”.
Letícia Cruz, 38 anos, é anestesiologista no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, em Penafiel.
Quando começou a pandemia, teve de sair da área de conforto e reforçar o atendimento de doentes covid-19 suspeitos ou já confirmados, quer em sala de emergência quer em UCI. Uma “dinâmica nova e difícil” para esta especialista.
Mas a parte mais difícil de todos estes meses foi a gestão da vida famíliar. O filho, Lourenço, agora com quatro anos, sofre de problemas respiratórios, o que o colocava no grupo de risco. Para o proteger, Letícia teve de tomar a decisão difícil de se mudar para um alojamento local, no Porto, cedido por um grupo solidário.
“Tinha receio pela saúde do meu filho. Foi uma opção muito pensada, que na altura foi o que fez mais sentido na minha cabeça”.
Condensava a semana em turnos de 12 horas por dia. Quando precisava de ir a casa, fazia um teste à covid-19. Se desse negativo, regressava a casa durante alguns dias, para estar com a família.
A dinâmica familiar, nesses primeiros tempos, foi difícil. “Não se sabia o fim, não tínhamos a certeza quanto tempo” a pandemia ia durar.
Após o verão, Letícia acabou por decidir assumir o risco e voltar a casa. “Tive de tomar a decisão de não voltar a expor o meu filho àquela situação porque achei que também era demais. Decidimos correr o risco como família, rezando para que nada acontecesse e tudo corresse pelo melhor”.
Ao fim de um ano de pandemia, Letícia diz ter um “orgulho enorme” na resposta que os profissionais de saúde conseguiram dar.
Um dia, gostava de poder transmitir ao filho Lourenço “todos os sacrifícios” que fez por ele e por toda a família, com alguma “fragilidade emocional”, mas com um “sentido de missão muito grande”.
“Não me arrependo do que fiz, voltaria a fazer exatamente a mesma coisa, nos mesmos momentos e com a mesma certeza de que estava no caminho certo”, afirma.
Este foi um ano “duro” para os profissionais de saúde, que significa cansaço, mas também “orgulho”, lembra a médica.