Susana via “olhos tristes” à sua volta

A enfermeira do Hospital Garcia de Orta lembra o mês de janeiro, quando a equipa tinha "um receio imenso de não conseguir receber todos os doentes" que precisassem.

Oiça aqui o essencial da entrevista a Susana Graúdo, enfermeira-chefe no hospital Garcia de Orta

“Olhávamos uns para os outros, havia olhos tristes, emocionados, porque estávamos com um receio imenso de não conseguir receber todos os doentes que de nós precisam”.

É assim que Susana Graúdo, enfermeira-chefe nos serviços de Medicina 1 e 2, no Hospital Garcia de Orta, descreve os últimos dias de janeiro e primeiros de fevereiro, quando houve um pico nos internamentos.

Semanas depois de o país ter assistido às imagens de filas de ambulâncias paradas à porta dos hospitais, que não tinham capacidade para dar resposta a todas as solicitações, a enfermeira descreveu à Renascença os momentos de enorme pressão vividos naqueles dias.

“À medida que as horas iam passando, havia o sentimento de ‘quanto tempo isto vai demorar?’”

As duas enfermarias onde Susana Graúdo lidera a equipa de enfermagem inicialmente não estavam vocacionadas para covid-19, mas passaram a estar, quando as necessidades aumentaram.

A primeira enfermaria foi convertida em novembro, quando houve um grande aumento no número de internados; a segunda veio “por arrasto”, em janeiro, quando as necessidades de internamento aumentaram ainda mais.

Sobre o último ano, a enfermeira descreve-o como difícil e lembra que os profissionais de saúde, desde o verão, “nunca mais tiveram férias”, além das folgas que são muito poucas.

“Se não tivéssemos uma família que nos apoia incondicionalmente, isto seria impossível”, garante Susana, que descreve a sua família e a de cada profissional de saúde como “heroína”.

Aos portugueses, pede alguma paciência e cumprimento de regras. “Precisamos que as pessoas atendam àquilo que é necessário, para que possamos daqui por pouco tempo voltar à nossa vida normal, que é o que todos mais ansiamos”.