Vila Real

Laura Bastos, 71 anos, professora reformada

O número de pensionistas em Portugal deverá aumentar de 2.7 milhões para 3.3 milhões nos próximos 15 anos. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos atira a idade da reforma para os 69 anos para assegurar a sobrevivência da Segurança Social, mas nenhum partido se atreve a seguir esta sugestão. Todos apresentam alternativas para manter a população envelhecida saudável e com longevidade.

O Alto Tâmega é a região do país com o mais alto índice de envelhecimento populacional. No distrito de Vila Real, o saldo natural por cada 1.000 habitantes é de -77%, contra -25% de média nacional. Laura Bastos vive em Chaves e é uma professora de 71 anos já reformada. Num concelho com várias aldeias desertificadas e com uma população "extremamente envelhecida", considera-se uma reformada privilegiada. A reposição das pensões é um dos trunfos que o primeiro-ministro tem usado durante a campanha, algo que "incomoda" Laura.

Chaves evoluiu muito, mas as aldeias estão cada vez mais desertificadas

A última escola onde trabalhei, antes de estar destacada na educação de adultos, era em Aveleda. Eram quase 40 quilómetros por estrada municipal e mais dois quilómetros a pé, porque o caminho até à aldeia era de terra, que muitas vezes se transformava em lama. Chaves evoluiu muito, mas as aldeias estão cada vez mais desertificadas. Não há alunos e todos os meninos estão centralizados nos agrupamentos. Para as crianças foi bom, para poderem conviver, mas para as aldeias foi muito mau. Neste momento, a nossa região está extremamente envelhecida.

Os velhos não protestam, não podem fazer greve como reformados

Incomoda-me que o senhor primeiro-ministro diga constantemente que repôs as pensões de aposentação. Costumo dizer que tive a sorte de me reformar nos bons velhos tempos, em 2004. Aposentei-me com uma boa reforma, mas quando começou a crise tiraram-me um valor significativo da pensão e só foi reposto um quinto do valor retirado. Nunca voltei a ganhar o mesmo que ganhava quando começou a crise. Gostava que repusessem a totalidade da reforma, mas não tenho grandes expectativas de que isso aconteça. Os velhos não protestam, não podem fazer greve como reformados.

A Assembleia da República dá pouco cavaco aos mais velhos

Seria positivo que o Parlamento, no futuro, se focasse nos problemas sociais da população portuguesa, nomeadamente da população mais velha, que cada vez existe em maior número. Os que hoje são velhos no passado deram muito à sociedade e merecem ser tratados com mais respeito e dignidade. A Assembleia da República dá pouco cavaco aos mais velhos e devia haver mais oportunidades de participar na construção do país. Considero-me uma pessoa minimamente informada e vejo que o que se passa no Parlamento é inacessível aos cidadãos.

Existe a universidade sénior, mas é para uma camada mais erudita

Pago 60 euros por mês para poder ir à piscina, um valor muito alto para grande parte dos reformados desta região. A minha mãe vive comigo, tem 92 anos, e uma reforma como a que ela tem, mesmo acumulada com a do meu pai, não dá margem para muito. Existe a universidade sénior, mas é para uma camada mais erudita da população. Projetos desse tipo são interessantes, mas não são acessíveis a todos, sobretudo nas regiões onde há mais iliteracia. Não existem grandes alternativas para os reformados, sobretudo para os que têm poucos recursos económicos.

Sinto muita distância da Assembleia da República

O papel dos deputados é muito importante e devem estar atentos às necessidades dos portugueses, mas muitas vezes não vejo esse comportamento da maior parte deles. Tínhamos uma deputada do distrito de Vila Real que estava atenta aos nossos problemas e que estava frequentemente presente em eventos públicos da nossa terra, mas é um comportamento raro. No geral, sinto muita distância da Assembleia da República.

Há uma impunidade total da classe política

Há muita abstenção porque os portugueses olham para os políticos como vigaristas, oportunistas e malabaristas. Quero acreditar que há políticos sérios, mas vemos que há uma impunidade total da classe política. Deviam ser muito mais responsabilizados pelos seus atos. Gostava de ver mais jovens na nossa camada política, mas com tanta corrupção os jovens não se sentem mobilizados e acabam por ser os que menos votam.