Bragança

Armando Pacheco, 47 anos, Agricultor

Nos últimos anos, o distrito de Bragança viu a chegada da autoestrada, ganhou uma estação de TGV a 30 quilómetros da capital de distrito, com ligação a Vigo e Madrid, e recebeu apoios dirigidos à agricultura. Bragança afirma-se como um distrito forte na capacidade de captar fundos comunitários. Com uma população de 125 mil habitantes, em decréscimo constante, a redução para dois deputados eleitos para a Assembleia da República pode chegar num futuro próximo.

Numa feira em Macedo de Cavaleiros, António Costa enumerou, no início do mês, medidas de valorização do interior do país e revelou que foram concedidos mais de 280 milhões de euros de apoio direto aos agricultores de Bragança, financiados por quadros comunitários. Armando Pacheco nasceu e cresceu em Santo Tirso, mas foi em Mogadouro que se instalou como agricultor. Produz castanha no planalto mirandês, pertence a várias associações de agricultores e está à frente da Federação da Agricultura de Trás-os-Montes e Alto Douro.

É importante que os apoios cheguem aos agricultores

Neste tipo de quadros o que é importante é que os apoios consigam fluir, porque até podemos ter muitos apoios mas não são úteis para os agricultores se foram inatingíveis. Por vezes, não existe informação suficiente ou há desinteresse por parte do agricultor em executar os processos de candidatura. Vamos entrar agora na pior fase, que é o fim de um quadro de apoios comunitários e a entrada num novo. Estas transições são sempre preocupantes, porque travam os investimentos, mas o dinheiro tem chegado aos agricultores de Bragança.

O interesse dos deputados devia ser defender os portugueses

Não fico preocupado que num país tão pequeno haja pouca representatividade de deputados em certos distritos. Dos anos em que conheci os deputados do distrito de Bragança, qual foi o que defendeu a região? Nós ainda só assistimos a um "Queijo Limiano" (caso do deputado Daniel Campelo, que levou à sua expulsão do CDS), que é a forma como a política se move em Portugal. Era preciso que se preocupassem mais, não só os de Bragança, mas também os de fora. Os deputados que vão ser eleitos pelo nosso distrito são todos de Bragança, mas enviámos alguns para concorrer por Lisboa. Será que os daqui vão defender Lisboa? O interesse dos deputados devia ser defender o país e os portugueses no geral.

Partidos querem chegar a todos e acabam por não chegar a ninguém

Antigamente, nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, as pessoas tinham as suas escolhas políticas bem definidas. A população portuguesa está a ficar cada vez mais desligada da política e a deixar de ir votar porque os partidos deixaram de ter ideologias definidas. Os partidos querem chegar a todos os eleitores e acabam por não chegar a nenhum. Nas eleições autárquicas não há tanta abstenção, porque há muita proximidade entre os candidatos, as políticas e os cidadãos. Quando se trata de legislativas, a população vota pelo partido, pela ideologia.

Não se pode ambicionar uma regionalização quando a riqueza está toda num só lado

Não sou a favor da regionalização de um país pequeno como o nosso. Acredito que iríamos beneficiar se tivéssemos apenas alguns órgãos e instituições mais descentralizados. Não se pode ambicionar uma regionalização quando a riqueza está toda de um lado do país, no litoral. As regiões com menos riqueza vão continuar dependentes das zonas mais ricas e isso não é regionalização. Costumo dizer que se juntarmos toda a população de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães, não conseguimos encher o Estádio da Luz. Como é que se pode pensar em regionalização com tão pouca população no interior? São as 130 mil pessoas do distrito de Bragança que vão suportar o distrito?

A imagem de Bragança na TV é de umas vacas a lavrar

O nosso distrito, de norte para sul, é muito heterogéneo, as culturas agrícolas são completamente diferentes, mas existe muito profissionalismo. Infelizmente, a imagem que passa na televisão de Bragança é de umas vacas a lavrar e uns 'burritos', mas isso só existe para o dia em que se filma. Possivelmente, somos dos distritos onde se vende mais tratores e onde existem várias explorações com robótica. Tudo o que é tecnologia aplicada à agricultura usa-se em Bragança.

É muito complicado construir barragens, mas sem elas não vamos sobreviver

A agricultura é o setor que tem mais peso económico no nosso distrito e é fundamental apostar no regadio. A agricultura de hoje, para ser rentável, exige água. Não se pode construir barragens em linhas de água, só que é lá que a água está. Nunca poderemos competir com outros países se não tivermos agricultura de regadio.

Preocupa-me que o vice-presidente da comissão da Agricultura na Europa seja do PAN

A Política Agrícola Comum (PAC) é a única política comum na Europa e, antes de a discutirmos no Parlamento, temos de começar por negociar em Bruxelas, para depois debater o resto. Preocupa-me que o vice-presidente da Comissão da Agricultura no Parlamento Europeu seja uma pessoa do PAN, porque é um partido que não conhece a realidade do país. Se vão defender os animais e a natureza da mesma forma como querem defender em Portugal, então nem precisamos de dinheiro da Europa.