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Coimbra

Joana Providência, 28 anos, médica oftalmologista

O distrito onde nasceu António Arnaut, o "pai" do Sistema Nacional de Saúde, é paradigmático da crise que a Saúde atravessa em Portugal. O distrito concentra os dois municípios com maior e menor número de habitantes por médico e farmacêutico - Coimbra tem 51 habitantes por especialista e Pampilhosa da Serra tem 4.000. Um exemplo que espelha as discrepâncias no acesso a cuidados de saúde entre o interior e o litoral e entre as regiões urbanas e rurais. Com 390 mil eleitores inscritos, o distrito elege 9 deputados.

Joana Providência está a terminar o último ano de internato em oftalmogia num dos hospitais mais consagrados do país - o Hospital Universitário de Coimbra. Mas apesar da boa fama, Joana diz que o hospital lida hoje com graves carências. Face à elevada falta de profissionais, a jovem oftalmologista chega a trabalhar 80 horas por semana e a atender 50 pacientes por dia para evitar que os doentes voltem para casa sem consulta.

Há poucas medidas para atrair médicos

Quando se formam novos médicos especialistas, muitos acabam por não querer ir para as regiões mais carenciadas, sobretudo o interior e o sul do país, porque há poucas medidas para tentar atrair médicos para as regiões com uma baixa densidade populacional. Por vezes fala-se de alguns incentivos, mas acabam por não se concretizar. Falam em medidas para facilitar o alojamento e o que se verifica é que as casas fornecidas têm poucas condições de habitabilidade. Devia haver incentivos económicos porque quem deixa uma grande cidade acaba por abdicar de várias oportunidades profissionais.

Há doentes que não têm como voltar para casa

Em Portugal, existe pouca igualdade no acesso a cuidados de saúde. A população mais afastada dos grandes centros urbanos acaba por estar mais condicionada a vir aos hospitais centrais e os próprios acessos não são bons e precisam de várias horas de viagem. Por outro lado, nessas regiões a população está mais envelhecida, não tem acompanhantes para vir às consultas, é uma realidade muito complicada com a qual contactamos todos os dias. Há doentes que vêm de fora, à urgência, e têm dificuldade em voltar para casa ou em regressar para as consultas de seguimento. O apoio no transporte é dado aos que têm carências económicas, mas para além disso precisam de cumprir alguns critérios extra, como ter doenças oncológicas, défices visuais graves, entre outros.

O trabalho é mais reconhecido no estrangeiro do que em Portugal

O trabalho em alguns países no estrangeiro acaba por ser mais reconhecido, há mais condições de trabalho, é mais fácil gozar os descansos, que aqui são dificultados por existir uma grande carência de profissionais. Em qualquer país, por muito boas que sejam as condições, ser médico é sempre uma missão, mas também somos pessoas e penso que o nosso trabalho é desempenhado de uma forma pior se não estivermos satisfeitos com o que fazemos.

Abdicamos do nosso descanso

Trabalho muitas horas por semana, muitas horas por dia. É difícil ter acesso aos descansos. Não queremos desmarcar consultas porque essas consultas têm de voltar a ser marcadas e não há horários disponíveis. Acabamos por abdicar do descanso e trabalhamos horas em excesso, sem dúvida. Devíamos trabalhar 40 horas por semana, mas trabalhamos 60 horas, nalguns casos 80 horas. É suposto recebermos cerca de 12 doentes de manhã, nove à tarde, mas há vários dias em que vejo mais de 50 doentes. Sacrificamos a nossa hora de saída e ficamos até muito mais tarde.

Reformaram-se mais profissionais do que os que entraram

Desde que estou no serviço já se reformaram muitos profissionais, mais dos que os que entraram nestes anos. Isso faz com que aumente a lista de espera de consultas e, neste hospital, para qualquer tipo de consulta existem vários meses de espera.

No verão há doentes que desmaiam

Faltam recursos humanos, existe demasiada burocracia que dificulta o nosso trabalho, existe também falta e material, os nossos computadores são antigos e estamos muito dependentes deles e o facto de termos um computador lento atrasa muito a consulta, para além da falta do restante material. As nossas salas de espera não têm capacidade para que todos possam estar sentados, não há água disponível, não existe ar condicionado e no verão há doentes que desmaiam. As condições não são as melhores.

É fundamental votar

É fundamental votar, é a única forma que temos de manifestar que não estamos contentes com as medidas políticas que existem. Quem não está contente pode votar em branco ou tentar procurar partidos alternativos.