23 jan, 2025 - 08:30 • João Malheiro
"O Brutalista" chega esta quinta-feira a Portugal, depois de quatro meses de antecipação, muitos elogios por parte da crítica especializada e vários prémios conquistados.
Trata-se da terceira longa-metragem de Brady Corbet — ator que, entretanto, seguiu a carreira de cineasta — que conta a história fictícia de um arquiteto judeu que sobrevive ao Holocausto e procura uma nova vida nos Estados Unidos da América no pós-guerra.
A narrativa, contada num formato épico de três horas e meia de duração — que inclui um intervalo de 15 minutos integrado no próprio filme — e dividida por uma abertura, duas partes e um epílogo, mostra a vida de László Tóth por Filadélfia, as dificuldades que encontra para se conseguir sustentar e um acordo que acaba por fazer com um magnata que coloca em cheque a sua integridade.
É uma análise crua ao lado mais sombrio e menos romantizado do conceito de "sonho americano": a promessa de uma vida melhor que motiva muitos a emigrar, até aos dias de hoje, para os Estados Unidos.
O filme teve a sua estreia no Festival de Veneza a 1 de setembro e, instantaneamente, recebeu aclamação da crítica especializada. Brady Corbet venceu o Leão de Prata na categoria de Melhor Realização, tratando-se do primeiro de muitos reconhecimentos que o filme iria acolher.
Nos Globos de Ouro venceu três prémios nas categorias de Drama, incluindo o de Melhor Filme, e é apontado como um dos grandes candidatos à vitória dos Óscares.
O elenco é expansivo e cheio de talento. Adrien Brody assume o papel principal, contracenando com Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Stacy Martin, Emma Laird, Jonathan Hyde e Alessandro Nivola.
Para capturar a estética dos anos 50, em que decorre grande parte da ação, o filme foi gravado em VistaVision, uma película criada pela Paramount em 1954 para obter melhor resolução de imagem do formato fílmico de 35 mm.
O título do filme usa uma palavra que pode parecer estranha ou pouco usual, mas que nada tem a ver com questões comportamentais ou de caráter. Na verdade, trata-se de um adjetivo associado a um estilo arquitetónico.
O Brutalismo é uma tendência da arquitetura que surgiu no início do século XX e tornou-se bastante popular entre as décadas de 50 e 70 — precisamente o período retratado na longa-metragem.
Trata-se de um estilo que é marcado pelo uso do betão, sem qualquer tipo de revestimento ou pintura que possa florear a superfície dos edifícios, que são construídos em volumes maciços e com estruturas e formas funcionais e bastante geométricas.
De facto, brutalismo deriva de "brut" — palavra francesa para "bruto" —, mas associada ao aspeto e ar imponente dos edifícios concebidos dentro deste estilo.
A personagem principal do filme, László Tóth, é um arquiteto que, ao longo do filme, desenvolve obras dentro desta tendência artística.
Apesar de bem cotado como candidato a vencer vários prémios, uma entrevista do editor do filme Dávid Jancsó gerou uma polémica que pode fragilizar e comprometer a apreciação do filme.
O responsável pela montagem de "O Brutalista" referiu que ferramentas da Respeecher — um software que usa inteligência artificial — foi usado para retocar o diálogo em húngaro de Adrien Brody e Felicity Jones. Apesar de os atores terem treinado a pronúncia, as falas foram retocadas digitalmente.
Isto levantou, de imediato, várias críticas nas redes sociais e muita discussão na imprensa especializada. Por um lado, questionou-se se as técnicas de inteligência artificial usadas eram generativas — ou seja, que usavam vozes já existentes de pessoas para depois substituir a dos atores — ou se se tratou de meras correções, usando ferramentas de agilização de processos técnicos.
Por outro, tendo em conta que muitos atores se dedicam a aperfeiçoar sotaques e outras características que possam valorizar a sua interpretação de um papel, o trabalho de dois atores que têm a sua prestação alterada digitalmente perde o seu mérito?
Se não há uma resposta clara ou objetiva neste que é um ponto de ebulição de novas tecnologias que podem alterar a forma como arte é criada, o realizador do filme deu a sua versão dos acontecimentos, para tentar acalmar os ânimos. Brady Corbet refere que o processo de acerto do sotaque húngaro foi manual, feito em pós-produção pela equipa de som e a ferramenta não substituiu nenhum artista.
Como se não bastasse este caso, outro alegado uso de inteligência artificial generativa aconteceu para criar alguns edifícios e maquetes que surgem numa sequência perto do fim do filme. Contudo, o cineasta diz que não houve qualquer uso de imagens geradas por este tipo de ferramenta e que se tratam de fotografias concebidas intencionalmente para parecerem imagens digitais rudimentares da época dos anos 80.
"O Brutalista é um filme sobre a complexidade humana e todos os aspetos da sua criação foram feitos com esforço humano, criatividade e colaboração. Estamos muito orgulhosos da nossa equipa", termina o comunicado de Brady Corbet.