24 out, 2024 - 08:26 • Fábio Monteiro
Morreu, aos 79 anos, o cantor Marco Paulo: um ícone da música popular portuguesa que bateu recordes de vendas, com êxitos como “Taras e Manias”, “Nossa Senhora” ou “Eu Tenho Dois Amores”, que fizeram furor nos anos 70, 80 e 90. A notícia foi avançada esta quinta-feira pela SIC, canal com o qual o cantor tinha uma ligação profissional estreita.
O artista, dado a acrobacias com microfones em palco, é o quinto cantor nacional com mais discos vendidos de que há registo e também o único cantor português a alguma vez atingir a fasquia do disco de diamante – ou seja, vendeu mais de um milhão de cópias com um só disco.
Ainda em maio de 2022, Marco Paulo, que desde 2021 vinha a apresentar um programa televisivo na “SIC”, foi condecorado com a Ordem Infante D. Henrique pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
É um dia muito importante para mim. Nunca pensei que aquela criança que nasceu no Alentejo, numa vila tão pequenina chamada Mourão, um dia pudesse entrar neste palácio lindíssimo e ser condecorado pelo senhor Presidente da República, de quem gosto muito”, confessou.
Marco Paulo – nascido em 1945, em Mourão, no Alentejo, com o nome de João Simão da Silva – foi diagnosticado com um cancro no pulmão em 2022. “Ponho a minha vida nas mãos dos médicos e a minha alma nas mãos de Nossa Senhora”, disse, numa entrevista recente.
Este não foi o primeiro problema oncológico do artista. Em 1996, já havia tido um tumor no testículo direito – que acabou por ter de remover. Na época, a situação clínica do cantor não veio a público.
“Como foi uma coisa muito íntima, nunca me senti muito confortável a falar dela e fui sempre preferindo manter o silêncio. Na altura, estas coisas também eram quase tabu. Não se ouvia falar delas e mesmo hoje ainda se fala com alguma vergonha. Eu é que já não devo nada a ninguém”, explicou o próprio, em entrevista ao “Correio da Manhã”, em novembro de 2022.
Marco Paulo tinha cinco anos quando a sua família se mudou para o Barreiro. "Eu fui um menino que saí do Alentejo, descalço, numa camioneta.” E desde cedo fez parte de ranchos e teve aulas de canto.
A sua carreira musical com quase seis décadas arrancou graças a Cidália Meireles, cantora que tinha um programa na RTP de grande sucesso na época, o “Tu Cá, Tu Lá”.
A apresentadora descobriu Marco Paulo num ensaio, quando este era adolescente, e convidou-o a participar no programa. Pouco depois, já o jovem estava a atuar no Festival da Canção da Figueira da Foz (onde ficou em terceiro lugar) e a receber um convite da Valentim de Carvalho para editar um disco.
Editado em 1966, o EP “Não Sei” foi bem recebido pelos portugueses. No ano seguinte, Marco Paulo participou no Festival da Canção da RTP, com a canção “Sou tão feliz”, e ficou em 6.º lugar.
Apesar de a sua carreira musical estar a arrancar, João Simão da Silva (o nome real do artista) foi chamado a cumprir o serviço militar obrigatório aos 21 anos; durante a guerra colonial, esteve destacado na Guiné-Bissau, onde desempenhou funções de escriturário.
O cantor era admirador de Simone de Oliveira, Madalena Iglesias e sobretudo de Amália Rodrigues, fadista que teve "o privilégio de conhecer e ir ao seu camarim".
O primeiro disco de Marco Paulo, no estilo que lhe é reconhecível, surgiu em 1978; vendeu 85 mil cópias, o single “Canção Proibida/Ninguém Ninguém” foi um sucesso. O disco “Mulher Sentimental” seguiu-se e conquistou a atenção dos portugueses.
O single “Eu Tenho Dois Amores” (em 1980), contudo, fez a popularidade do cantor rebentar.
“Gostava de ver o reportório longo que eu tenho de sucessos num musical. O convite já foi feito. Não o pude aceitar porque tinha acabado de assinar contrato com a SIC e teve de ficar em standby, mas espero que um dia mais tarde se possa fazer”, contou Marco Paulo, ainda este mês.
Durante os anos 80 e 90, Marco Paulo editou quase um disco por ano. O registo em palco do cantor, que tinha por hábito trocar o microfone de mão, foi muitas vezes parodiado por humoristas nacionais.
Ao mesmo tempo, apresentou também alguns programas de televisão na RTP. Em 1994, teve o “Eu Tenho Dois Amores”, emitido nas noites de domingo, que foi um sucesso de audiências. Em 1996, foi o rosto do programa “Música no Coração”.
No dia 1 de janeiro de 2023, uma série biográfica sobre o artista foi lançada no canal SIC e plataforma OPTO SIC.