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Guerra na Ucrânia

Proteger o património cultural em tempos de guerra. Na Ucrânia, mais de 400 edifícios culturais já foram danificados

26 jun, 2024 - 16:25 • Redação

Ihor Poshyvailo é fundador da HERI, uma iniciativa que promove a conservação do património cultural ucraniano. Desde fotogrametria 3D à exposição de material danificado, o objetivo é "conservar e proteger a cultura."

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Quando se pensa em guerra, é automático pensar nas vidas perdidas e na destruição do território, mas 852 dias depois do início do conflito na Ucrânia já mais de 400 edifícios culturais foram danificados.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), desde 24 de fevereiro de 2022 foram total ou parcialmente destruídos 137 espaços religiosos, 31 museus, 27 monumentos, 15 bibliotecas, um arquivo e 201 edifícios de interesse histórico ou artístico. A região de Donetsk foi a mais afetada.

“É bastante claro para nós que esta guerra se trata de um genocídio e que o património cultural é um dos alvos, porque os russos pensam em destruir os ucranianos não só fisicamente, mas também cultural e espiritualmente”, diz Ihor Poshyvailo, diretor do Maidan Museum, em Kiev, durante a GLEX Summit, Cimeira Mundial de Exploradores, que decorreu nos Açores.

“Quando começou a agressão em grande escala, muitos dos meus colegas de museus, arquivos, bibliotecas, centros culturais não sabiam o que fazer. Como proteger os edifícios, o pessoal, as colecções? O que deviam fazer primeiro: proteger vidas humanas ou proteger o país? Evacuarem-se a si próprios ou evacuar os valores culturais?”, recorda.

Nesta situação, em conjunto com organizações não-governamentais, Ihor Poshyvailo lançou a chamada Heritage Emergency Response Initiative (HERI) - em português, Iniciativa de Respostas de Emergência para Património.

Em poucas semanas, e com apoio internacional, começaram por evacuar coleções e fornecer às instituições e museus materiais para embalar os objetos de arte.

Não foi fácil, especialmente nos primeiros meses. Por vezes, havia alguns territórios encerrados devido a ações militares. Tentámos encontrar apoios e coordenamos as nossas atividades com outros voluntários que se dedicavam à ajuda humanitária”, explicou.

Em poucas semanas, e com apoio internacional, começaram por evacuar coleções. Foto:HERI
Em poucas semanas, e com apoio internacional, começaram por evacuar coleções. Foto:HERI
A Heritage Emergency Response Initiative (HERI) trata da conservação e proteção do património cultural na Ucrãnia.Foto:HERI
A Heritage Emergency Response Initiative (HERI) trata da conservação e proteção do património cultural na Ucrãnia.Foto:HERI
“É bastante claro para nós que esta guerra se trata de um genocídio e que o património cultural é um dos alvos" Foto: HERI
“É bastante claro para nós que esta guerra se trata de um genocídio e que o património cultural é um dos alvos" Foto: HERI

À Renascença, Ihor Poshyvailo conta que, em maio de 2022, quatro meses depois do início do conflito, “uma das jovens voluntárias, de 19 anos, foi para Chernihiv, com mais cinco carrinhas humanitárias. O objetivo era transportar um gerador elétrico para um museu que acolhia habitantes locais e tentar salvar a coleção do museu. Cerca de 100 pessoas estavam na cave do museu para se protegerem. Na tentativa de transportar esse gerador, perto de Chernihiv, essas cinco carrinhas foram atacadas pela artilharia russa e essa jovem, tal como quem lá estava, morreu.

“A proteção do património cultural em tempo de guerra pode ser perigoso e os custos são bastante elevados”, acrescentou.

Além da conservação das coleções, esta iniciativa procura documentar os “crimes contra a cultura” através de expedições no terreno aos territórios ocupados da Ucrânia, e da documentação de edifícios e coleções danificadas através de fotogrametria 3D. A digitalização a laser dos edifícios danificados permite “preparar para uma posterior reconstrução”. “Tudo para contar a história. Não apenas através de fotografias, mas através de objectos que ainda guardam essa memória e energia”, esclareceu.

Além disso, organizam exposições onde expõem elementos de edifícios históricos e obras de arte danificadas como forma de “poder contar a história desta guerra através da arte”.

Desde fotogrametria 3D à exposição de material danificado, o objetivo é "conservar e proteger a cultura." Foto: HERI
Desde fotogrametria 3D à exposição de material danificado, o objetivo é "conservar e proteger a cultura." Foto: HERI
Desde fotogrametria 3D à exposição de material danificado, o objetivo é "conservar e proteger a cultura." Foto: HERI
Desde fotogrametria 3D à exposição de material danificado, o objetivo é "conservar e proteger a cultura." Foto: HERI

A importância de conservar o património cultural

Ihor Poshyvailo defendeu que “o património cultural é a essência da vida humana e a cultura, em geral, cria a identidade.” Para exemplificar isso, o fundador da HERI conta que, na Ucrânia, “a cerâmica está muito desenvolvida e há tradições especiais que datam de há centenas de anos, e por isso há técnicas específicas.” Quando aqueles que conhecem essas técnicas são realojados, por causa da guerra “perdem o ambiente e as ferramentas para o seu trabalho, o que também constitui um dano”.

“Quando [os russos] ocupam, o território ucraniano, e invadem um museu, por exemplo, saqueiam a coleção e destroem a documentação”.

Para Ihor, a principal razão deste conflito “é destruir a identidade da Ucrânia, a cultura, os heróis, a história e as nossas tradições.” Por isso, “é muito importante proteger a cultura”.

“É também importante para os ucranianos não se cansarem, não serem pessimistas e não se acostumarem à guerra. Lembrarem-se sempre daquela que é a sua identidade cultural”, sublinhou Ihor Poshyvailo, fundador da HERI.

“Quando [os russos] ocupam, o território ucraniano, e invadem um museu, por exemplo, saqueiam a coleção e destroem a documentação”.

Para Ihor, a principal razão deste conflito “é destruir a identidade da Ucrânia, a cultura, os heróis, a história e as nossas tradições.” Por isso, “é muito importante proteger a cultura”.

“É também importante para os ucranianos não se cansarem, não serem pessimistas e não se acostumarem à guerra. Lembrarem-se sempre daquela que é a sua identidade cultural”, sublinhou Ihor Poshyvailo, fundador da HERI.

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