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Aldeia de Santa Isabel. "O que atrai e motiva estes jovens é a profissão"

22 jun, 2023 - 17:09 • Diogo Camilo , Filipa Ribeiro , Sónia Santos

Sónia Santos esteve à conversa com o diretor do Centro de Formação Profissional da Aldeia Santa Isabel, Jorge Gomes. Uma instituição da Santa Casa onde jovens à beira do abandono escolar e da exclusão social encontram uma profissão e uma vocação para o futuro.

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Aldeia de Santa Isabel. "O que atrai e motiva estes jovens é a profissão"
O Jardim Sensorial e a Praça da Alegria, na Aldeia de Santa Isabel. Foto: Diogo Camilo/RR

Uma aldeia que começou por ser um orfanato de rapazes tem hoje um lar de idosos e um centro de formação, com várias oficinas espalhados pelos 6 hectares da aldeia, e que ajuda jovens à beira do abandono escolar a encontrarem uma vocação.

Jorge Gomes é diretor do Centro de Formação Profissional da Aldeia Santa Isabel, uma instituição da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e explicou, em conversa com Sónia Santos na Renascença, de que maneira é diferente o ensino e como são apoiados estes jovens.

Como é que funciona o ensino no centro de formação?

O ensino no nosso centro de formação profissional é o nosso grande objetivo estratégico.

Temos miúdos que nos chegam que vêm carregados de um estigma, não é? Vêm rotulados, dentro de um perfil tipo de jovens em exclusão social. Estão habituados a uma prática de ensino e aprendizagem dentro daquilo que é a escola do ensino regular, com um conjunto de preconceitos e uma forma de ensinar e de aprender que eles, de uma forma muito simples, detestam.

São miúdos que, quando entram na aldeia de Santa Isabel e no centro de formação profissional, têm percursos de 2, 3 anos de reprovações. Temos situações, por exemplo, de jovens que ainda não têm o sexto ano e já têm 16 anos e 17 anos. Que recusaram a escola, e, ou, a escola os recusou a eles.

Então, esta é uma alternativa? Como é que são essa alternativa na prática?

A nossa preocupação é tornar o ensino e a aprendizagem atraente. Primeiro fazer com que os nossos formadores possam motivá-los para a aprendizagem. Os nossos jovens estão no centro de formação profissional para aprenderem uma profissão.

Mas como é que conseguem motivar estes miúdos que realmente não gostam da escola?

Conseguimos motivá-los através de inverter a lógica. O que o que funciona melhor para atrair e para motivar estes jovens é a profissão. Não é a componente escolar, a matemática ou inglês ou português.

Algo mais prático. A que se consigam adaptar e pôr em prática no dia a dia.

Exato. E o que nós fazemos é um percurso inverso, do ponto de vista das aprendizagens. É uma pergunta muito simples: eu que quero ser carpinteiro, eu que quero ser cozinheiro e eu que quero ser cabeleireiro, para exercer a minha profissão, que conhecimentos do ponto de vista das disciplinas é que eu tenho que aprender? A voz de comando do modelo de ensino e de aprendizagem da aldeia de Santa Isabel é a oficina e é a profissão.

E que apoio, para além desta formação, é dada aos alunos?

Nós damos um apoio do ponto de vista pedagógico, portanto, tornando acessível a educação, numa lógica de educação inclusiva. E damos um conjunto vasto de apoios que passam, por exemplo, com por passes, os jovens têm a oportunidade de almoçar no nosso refeitório, temos o apoio dos transportes para todos os jovens que residem em Lisboa e há apoios que não são materiais que não são financeiros.

O primeiro exemplo é um apoio do domínio da aprendizagem que é as artes. Nós valorizamos muito o ensino das artes no nosso centro de formação profissional e estamos a fazer um trabalho já com alguns anos de associar as competências das artes a um défice estrutural dos nossos miúdos, que são competências de natureza socio emocional. E que são competências cada vez mais requeridas pelo mercado de trabalho.

Outra coisa que também apoiamos e queremos, de facto, desenvolver nos miúdos este tipo de competências é perceberem que, no fim de um ciclo de um curso, seja de 1 ano, de 2 anos, de 3 anos, que eles têm que desenvolver um conjunto de competências chave que são cada vez mais exigidas por parte das empresas: “Conseguem ou não trabalhar em equipa? Conseguem ou não ter autonomia para o exercício da profissão que fazem? Conseguem ou não coisas tão simples como ler e organizar informação?” E são estas coisas que são cada vez mais distintivas no mercado de trabalho. Se elas podem ser desenvolvidas em adultos, também podem ser desenvolvidas neste perfil de jovens que nós temos.

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